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E a danada da inveja, heim... xô! xô!

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segunda-feira, 14 de julho de 2008

A ilusão do poder (Zelinda Barros)

A luta das mulheres se institucionalizou... e o que isto significa? Inúmeros ganhos, sem dúvida, mas perdas também. Boa parte das perdas está atrelada ao fato de que os ganhos ocorreram num contexto político em que tudo é tornado moeda de troca, até mesmo as convicções morais. Visando “ganhos” para as mulheres, passamos a um estágio em que a dimensão da troca afetiva, da lealdade, do cuidado com a outra passou a ser visto como piegas – o importante é poder...

“Poder” o quê mesmo? Poder dissimular, poder trapacear, poder tecer intrigas, poder definir quem pode, poder, poder, poder... Estamos num turbilhão, mas... para onde vamos?

É preciso um repensar e um agir urgentes no sentido de retomarmos algo que na educação das gerações passadas era dado pela força do exemplo. Como seguir algo ou alguém em que/quem não se acredita? Como agir com solidariedade, se muitas alcançam o poder e beneficiam as que fazem parte do seu círculo, esquecendo tantas outras anônimas? Como ter esperança, se acordos são forjados com facções espúrias, antes antagônicas? Como confiar, se mal damos as costas e começam a nos difamar? Como falar em diversidade, se apenas as “iguais” fazem parte do círculo das eleitas?

É, mulheres, precisamos rever práticas, reforçar o que nos edifica e expurgar o que nos faz mal...
Apesar de tudo, confio na possibilidade de mudança e, assim como Martin Luther King em relação aos brancos, acho que “...precisamos acreditar que os mais desnorteados dentre eles podem aprender a respeitar a dignidade e o valor de cada personalidade humana.”(King, 18/09/1963)

A educação e a abertura à possibilidade de transformação são a base de tudo... quem comer desse pão viverá!

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Mais poesias... sentir e pensar... e agir!!! (Zelinda Barros)

MORTE

Todos negam o teu direito
Julgam que a ti podem preterir
Mas tu,
dama negra e bela
Leva-nos a um lugar mágico
e misterioso
onde todo gênio rende-se
à tua mais verdadeira sabedoria.
__________ x __________

SOLITUDE

A mim não faltam palavras,
A mim não faltam pensamentos
O que faltam são pessoas
A mim faltam momentos.

Triste sina
a de quem pensou que podia
E passou a vida a achar-se só
Pois, quando de súbito acorda
Vê-se impedido de desatar este nó.
__________ x __________

Os olhos vêem,
A boca sorri
Nem tudo o que vêem é belo
E o sorriso ainda permanece
O alimento à visão é raro
A boca alimenta-a com um sorriso.
__________ x __________


Nunca te vi
Sempre te admirei
Costumo te sentir
Nunca contigo estarei

Recolho-me ao som do silêncio
Que é a voz da solidão
Meu corpo com os olhos
a tua presença anseia
A mente abranda
o calor do coração
__________ x __________

Nada sei de novo
Tudo em mim já foi visitado
Unicamente visitado
Por mim mesma
Nas saídas sorrateiras da imaginação

Viajei em círculos
Não dei voz ao cansaço
Hoje,
vejo-me vazia de procura
Quero alguém
que resgate essa busca,
essa curiosidade por mim mesma.
__________ x __________

Gosto do nada,
que em si encerra mil possibilidades
Não simpatizo com o tudo,
que parece não admitir o vazio

A sensação de saciedade
me incomoda
Admiro a procura,
A busca constante
amo o instigante.

O nada sobrepõe-se ao tudo
mal feito
às esperanças inscientes
às necessidades vãs
aos desejos válidos
não saciados.
__________ x __________

Minha mente navega
como uma nau
desbravando novas terras
nesse mundo nodo
chamado imaginação

Não busco terra firme
Aprecio apenas a viagem
Que seja insólita enquanto dure!
__________ x __________
VIDA
Amiúde fútil
nas imagens que nos transmite
Cega
aos apelos da sorte
Nefasta
àquele a quem abraça a morte
Alegria
dos amorosos consortes
Tristeza
Do fraco, antes forte
Útil
como a cicatriz ao corte
__________ x __________

Me preocupa
A carência dos desvalidos
A insciência dos alienados
O arrivismo indecente
Me comove
A vida dos marginalizados
A ingenuidade dos carentes
A fraqueza da mente

Me revolta
A usura dos “ricos”
A desunião
O desamor
O desapego ao chão...
__________ x __________

POLIT...

Sórdidos otários
Arrivistas irracionais
Abutres mercenários
Homens de mente insana
de coração vazio

Políticos
nas palavras
Politiqueiros
nas ações
Raça de vermes!


Oxalá sejam expatriados
Sepultados
na sua pequenez moral
e materialismo burro.
__________ x __________
Sinto-me suja
Apesar da água
Sinto-me doente
Apesar da ciência
Sinto-me só
Apesar das pessoas

Sinto-me desprotegida
Apesar da polícia
Sinto-me em desarmonia
Apesar da natureza
Sinto-me... excluída
__________ x __________

Não se engane
Nunca poderei saciar-te
Matar tua fome,
tua sede

Sou como água salobra
Ao teu paladar
sou juá bravo
Sou ácido a corroer-te os sentimentos
Sou da cobra
o letal veneno
Leve à outra presença o teu pensamento
Não faça de tua vida um
Tor-men-to


__________ x __________

FILHA DA RUA

Menina descalça
Menina guerreira
A lua mãe
Pra ti sorri
à noite
Te aconchega
com sua luz materna extremosa
Promete dias melhores e sonhos
Pra colorir tua vida
curar tuas feridas

Não esqueça
em ti ela está presente
Toda noite não dorme
pra te agradar
As estrelas piscam brilhantes
pra teus sonhos iluminar
__________ x __________

PAISAGENS
Janela aberta
Visões passageiras
Por ti passam o moleque
A morena faceira

Capta momentos
Alimenta pensamentos
Tens a visão do homem na lida
És o esboço
Da magnânima vida!
PICHADOR DA CIDADANIA

Desce!
Seus gestos não são verdadeiros
Sua mente é vil e traiçoeira
Desce!
Iguala-se à sua altura moral,
à sua consciência perniciosa

Desce!
Devolve o lugar a quem trabalha,
a quem luta,
sua e, sobretudo,
raciocina
(Fica a promessa de figurar na história como é devido aos de sua espécie!)
__________ x __________

MARGINALIZADOS

Esbarram-se nas vielas
Convivem com a beleza pungente da vida
que só tem valor nas mãos do artista
Vivem (?!)
Conterrâneos da tristeza,
marginalizados
Desiguais?
Não. Humanos.
Portadores da condição que oprime,
insensibiliza,
flagela.
__________ x __________
BRILHO VÃO

Brilhar?
Como,
se a miséria ofusca os olhos dessa gente?
Quem há de me ver brilhar?
Como transpor as barreiras
E chegar à mente,
À alma
E transformar
A POBREZA MORAL
Em
SOLIDARIEDADE?
O quê?
Não diga que sou utopista
que sou ingênua
que sou rancorosa
por não querer ignorá-los e
RECOMEÇAR

Pergunto:
Feito o castelo de boas expectativas
Vê-lo destruído a ca-da-di-a
Como não sonhar,
Acreditar,
Decepcionar-se
RESSENTIR-SE?
__________ x __________


A fuga é útil
Amo a ele
Mas não ele a mim
Então sofro
Sofro só,
choro sozinha
E fujo.

Busco risos,
busco festa,
busco vinho,
Ele não encontro
Então, fujo.

Procuro disfarçar
Invento emoções que não sinto
Encubro a mim mesma
Continuo nessa procura
Busco o amor dele – ÚNICO
Espero que encontre o meu
Não consigo
Então... fujo.
__________ x __________

Construo castelos de sonhos
E me aprisiono neles
Num cárcere
Feito de imagens

Crio fantasias
Imagino um mundo que não me pertence
E ouso reinar sobre ele
Quando verdadeiramente me vejo
Encontro-me só

As pessoas que me cercam
quase não as vejo
Procuro outras
E quando não as encontro
fabrico

Me relaciono de forma íntima
Com seres etéreos
Travestidos de humanos
Enxergo olhares de ofuscante brilho
Mas... não sou eu quem os desperta

Penso e converso animadamente
com esses meus personagens
Amo, brinco,
brigo com eles
Talvez por medo de verdadeiramente amar,
brincar,
brigar
com pessoas.
__________ x __________

No primeiro contato
Foi como um camponês sem jeito
Sem saber como fazer para deixar à vontade um visitante citadino
Que me senti
Senti que o meu trivial,
o meu feijão de arroz acadêmico
poderia servir para, ao menos, estabelecer um contato
Porém,
percebendo que a minha intelectualidade de superfície não poderia proporcionar um contato que transcendesse o superficial
calei-me
Passei a observar e a maravilhar-me,
A aproveitar cada momento com você
Sua sutileza e seu olhar (Ah! O seu olhar...) me encantaram
Confesso que esses dias foram especialmente reveladores para mim
Encontrei-me com um ser que não sabia possível ser revelado a mim mesma (e, por mim mesma)
Graças a você...
Não sabia que tinha esse potencial
Não sei se vamos,
um dia
voltar a nos encontrar
Guardo essa lembrança-agradecimento
Lembrança
da possibilidade transformadora que foi o nosso encontro
Agradecimento,
por fazer de mim alguém mais apta
a captar os sinais de estar no mundo
com múltiplas pessoas,
dotadas de múltipla capacidade de amar.
__________ x __________

SOLIDÃO

Quando se está só
o mundo é mudo
mas toca bem no fundo
um samba de uma nota só.

Quando se está só
o tempo é longo
porém,
aguda e viva é a dor
de não poder ficar só

Se não estou só,
se a solidão não vem a mim por um segundo
não posso gozar da companhia
de quem me faz sol,
me faz mundo.
__________ x __________

AMIGOS

Amigos andam
Amigos abraçam
Amigos acompanham
Amigos aconselham

Amigos amam
Amigos querem bem
Amigos vigiam
Amigos brigam também

Quem não sabe ser amigo
Quem não sabe amar ninguém
Não enxerga a si mesmo
Nem o bem refletido em alguém.
__________ x __________

ESPERANÇA

Às vezes fala
Às vezes cala
Às vezes grita
Muitas vezes acalma

Às vezes choro
Muitas vezes riso
Às vezes corrida
Muitas vezes caminhada

Às vezes desilusão
Muitas vezes certeza
Às vezes desespero
Sempre, esperança.
__________ x __________

Quero a brisa
A brisa nordestina que traga fala mansa
Quero o sal
O sal
que o doce ressalta
Quero o sol
O sol
Reinando nas matas

Quero o dia
O dia
que abriga a noite
e a madrugada fria
Quero a vida
a vida que habita em mim
a vida que teu existir anuncia.
__________ x __________

O amor não morre,
Cochila
O amor não nega,
Abraça
O amor não prende
Liberta
O amor não tolhe
Incentiva
O amor não tem ciúme
Confia
O amor não passa
Permanece
O amor não une corpos
Une vidas
O amor não basta em si
Amplia-se
O amor não é indivisível
É compartilhado

Rasgos poéticos (Zelinda Barros)

Revendo coisas guardadas há muito tempo, encontrei os poemas e pensamentos abaixo, escritos quando tinha entre 14 e 21 anos. Me emocionei... leiam vocês também - e se emocionem... [pena que o que me indignava ontem continue tão presente hoje em dia...]

Não me apego ao passado
Não necessito do presente
Agarro-me ao fugidio futuro
Com a força das mãos
E a incerteza da mente.

Não convivo bem com o pré-estabelecido
É preguiça que não tenho
Sou um ser pensante
Não assimilo preconceitos
Antes, os rejeito
Pois têm o valor do que é gasto, inútil

__________ x __________

Histórias ocorridas
Ilusões passadas
Pessoas em diligência
Povo lento em sua
Diária maratona
Porvir indefinidamente impalpável.

__________ x __________

Aos meus inimigos,
perdôo
Aos falsos amigos,
repudio
Aos que me evitam,
respeito
aos que com falsos sorrisos a mim cobrem
Ah! Pra esses,
Guardo doces beijos amargos...

__________ x __________

Navegue num rio de lágrimas
E chegue a uma ilha de sonhos
e de desejos satisfeitos
ou... a um abismo de angústia
e frustração.

__________ x __________

O mal por si só não se destrói
Usando bem a criatividade
E abusando da solidariedade
Podereis controlá-lo.

__________ x __________

Falo a verdade pois a amo
Não aquela inventada, refutável
E sim a que é de mim nascida
A que vem das minhas origens
A que faz de mim livre e orgulhosa
Ciente da importância do grito
E da força do silêncio
A que me faz... cidadã.

__________ x __________

A MORTE, QUE PENA...

Loucos! Querem tirar o bem
de quem dele fez mal
Querem dizer sim à ignóbil execução
Querem calar o grito, o crime,
a má ação
E sujar de sangue a consciência numa atitude mortal

Vão implantar a pena
Com um ato vão tirar de cena
Aquele que da vida sonhada
não sentiu o sabor
Aquele que não respeitou a morte
e à vida não deu valor...

__________ x __________

Novos tempos,
novos dias,
Novas técnicas,
novas tecnologias

Novo momento,
nova era
Velhos preconceitos,
velhas quimeras...

Época de viver
Época de amar
Época de saber falar e escutar
Época de discorrer,
De lutar.

__________ x __________

Insone
em noite de lua cheia
Lobo uivante,
Nuvens de algodão

Insano
pelos desejos selvagens
que a mente audaz impõe
ao coração.

__________ x __________

Novas tendências,
novos mitos
Jogos de poder
e conflitos
Seguem-se os velhos ritos
Continuam dominando
[os ricos]

Instauram-se novos limites
Novas ordens sociais
Promovem a fome e a guerra
Negam a disseminação da paz.

__________ x __________

quinta-feira, 6 de março de 2008

E o terreno tá cada vez mais árido (Zelinda Barros)

E o terreno tá cada vez mais árido
tá cada vez mais árido o terreno...

Grilaram o campo da luta
nos matam de fome, nos violentam
e sorriem...

Sorriem pelo direito assegurado
pela violência debelada
pela morte da sanha de poder
por agora termos como fazer

Mas o terreno tá árido
tá cada vez mais árido o terreno...

Trocaram a letra da lei
querem nos aniquilar com o nosso próprio veneno
põe intenções em meus gestos
de forma que nem mesmo eu sei

E o terreno? Árido
tá cada vez mais árido o terreno

Irmãs desconhecem irmãs
trocam o Nós pelo Eu
competem e correm
e param
competindo na busca do que é(?) seu

E tá árido
cada vez mais árido o terreno...


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E o terreno tá cada vez mais árido is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.

segunda-feira, 3 de março de 2008

DICAS IMPORTANTES

Quer navegar por uns blogs interessantes? Experimente os blogs abaixo:

www.meublogcomtudodentro.blogspot.com – blog pessoal de Zelinda Barros, antropóloga

www.fazervaleralei.blogspot.com – blog com subsídios(livros, eventos, links) para auxiliar a implementação da Lei nº 10.639/03

www.socursosgratis.blogspot.com – divulgação de cursos, seminários e palestras grátis, prensenciais e à distância
www.trabalhartrabalhar.blogspot.com – blog voltado à divulgação de oportunidades de trabalho no Brasil, especialmente na Região Nordeste
www.casosecoisasdogenero.blogspot.com – blog com textos, poesias, divulgação de eventos relacionados à temática Gênero
www.trocatudosemdinheiro.blogspot.com – blog destinado à troca de objetos usados.
www.cursobgirls.blogspot.com – blog do Curso de Formação de B-Girl, promovido pela Rede Aiyê Hip Hop em parceria com o Fundo Ângela Borba de Recursos para Mulheres

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

DISTORÇÃO NA LEI MARIA DA PENHA - PARTE II

Dias atrás eu mencionei a brecha existente na lei Maria da Penha para que o fenômeno da violência contra a mulher fosse juridicamente desvirtuado. Na matéria publicada no Jornal A Tarde de 12 de fevereiro, transcrita abaixo, há um exemplo claro do que eu falava.

"Mulher é presa por agressão com base em lei Maria da Penha
Edson Borges, da sucursal Feira de Santana

A comerciária Renilda Santos Gonçalves, 19 anos, é a primeira mulher a ser presa em flagrante com base na lei Maria da Penha, criada, basicamente, para proteger o sexo feminino. Ela é acusada de ter jogado uma chaleira com água fervendo na sogra, a costureira Lucileide da Silva Moraes, de 52 anos, em Feira de Santana, e foi presa na manhã desta terça-feira, dia 12.

O sogro da comerciária, o petroleiro aposentado José Elizardo da Silva, de 75 anos, também sofreu com a agressão, quando tentou evitar a briga, e está internado na UTI do Hospital São Matheus.

“Renilda foi autuada pela agressão à sogra, mas o inquérito apresentará como agravante a situação do aposentado”, salientou a delegada titular da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), Martine Veloso.

Lucileide passa bem, apesar de ter sofrido queimaduras em boa parte da barriga. Renilda está presa no xadrez do Complexo Policial Investigador Bandeira. As duas se acusam mutuamente de ciúmes de Rogério Moraes Amorim, de 22 anos, filho da vítima e noivo da comerciaria.

A Tarde, CIDADES, 12/02/08."

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

A INCOERÊNCIA É O REGIME (Zelinda Barros)

Em uma de suas músicas, Caetano Veloso diz que aqui no Brasil “a indefinição é regime”. Discordo. Não há indefinição, há incoerência, pois publicamente muitos(as) defendem sem hesitação um determinado ponto de vista e, no aconchego do seu lar ou nos bastidores, agem de forma escandalosamente divergente. Chovem denúncias de políticos(as) que prometem moralidade, mas agem como verdadeiras aves de rapina quando se apropriam do erário público. Outros(as) se dizem defensores(as) dos Direitos Humanos, mas os únicos direitos que efetivamente defendem são os seus próprios, de seus familiares e/ou correligionários, em detrimento dos(as) demais. Para estes(as), a vida parece ser algo radicalmente defensável, desde que seja a sua própria ou a de seu grupo social, político ou étnico-racial. Muitos(as) se dizem anti-racistas, mas se calam vergonhosamente diante do sexismo e da homofobia; ou, se dizem anti-sexistas e/ou anti-homofóbicos(as) e são racistas. Um número expressivo de pessoas publicamente clamam por paz, mas alimentam a violência com o consumo desenfreado de drogas em suas festinhas e encontros privados. Há definição sim. Discursos bem estruturados, ideologicamente embasados, mas completamente vazios de sentido prático porque não se faz o que se diz. O “normal” é ter uma ética que privilegia a emissão pública de uma opinião afeita ao discurso politicamente correto, mas que é frouxa o suficiente para permitir o “jeitinho” quando for pessoalmente conveniente. Em vez da situação social que ora presenciamos, com o total descaso em relação à educação e à saúde dos menos favorecidos no país - que mata por ignorância e negligência, precisamos mais que urgentemente de uma "faxina moral".

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

MOVIMENTO DE MULHERES: COM OU SEM MULHERES? (Zelinda Barros)

Atualmente, fala-se que vivemos um novo momento para os movimentos sociais no Brasil. Grupos organizados em várias partes do país reivindicam políticas que contemplem os seus direitos. Os grupos de mulheres, como parte deste rol de grupos que questionam a lógica de um sistema que privilegia uns em detrimento de outras(os), também estão aí inseridos. Esta noção de que “há algo novo no ar” não necessariamente significa, a meu ver, novas formas de organização e sim que as desigualdades sociais hoje apresentam-se de tal forma que já não mais possível sofrer seus efeitos sem manifestar alguma forma de insatisfação. Este estado de coisas, no entanto, não nos leva a uma prática política transformadora, pois a organização necessária para a mobilização de mulheres encontra-se aquém do necessário para minimamente enfrentar as dificuldades que nos são impostas. A sensação que temos é de que estamos indo à luta contra armas das mais potentes e sofisticadas munidas de estilingues, o que nos coloca novamente em desvantagem. Mas qual a razão deste descompasso? Seríamos nós mulheres realmente menos capazes? Neste ensaio esboço algumas respostas a partir de inquietações que, para mim, nos dão pequenas pistas para responder a estas questões.

A institucionalização dos movimentos sociais - dentre eles o de mulheres, que hoje têm boa parte de seus quadros integrando as estruturas de governo, põe a nu questões não resolvidas pelos movimentos e que precisam ser entendidas não apenas como referidas a um movimento estratégico de cooptação pelo Estado ou à traição das(os) companheiras(os) seduzidas(os) pelo poder. A penetração de espaços até então não ocupados por mulheres, por exemplo, traz à tona o problema do relacionamento com o poder, do modo como lidamos com a possibilidade concreta de reversão de uma situação que pode contribuir para a modificação das nossas vidas.

As explicações de alcance macro podem ser tentadoras no sentido de dimensionarmos o problema como algo que não atinge exclusivamente a um determinado segmento de mulheres, mas a todas nós. No entanto, elas fazem com que percamos de vista minúcias que, para nós mulheres, que ao longo de nossa trajetória histórica nos ocupamos das “pequenas coisas”, são importantes para definição de um novo rumo na luta política. O sistema de dominação que impõe a nós mulheres a situação de desvantagem em relação aos homens, até mesmo por nossa própria iniciativa em favor deles, se alimenta de uma lógica que muitas vezes reproduzimos na tentativa de esboçar uma reação. Revela-se o mesmo desprezo pelo que é considerado de menor importância, de menor impacto: a relação face a face. É justamente a proximidade das relações que as mulheres historicamente forjaram que pode servir como potencial transformador da vida de todas as mulheres, não apenas das que são consideradas empoderadas ou que tentam a via do empoderamento das mulheres através do ilusório empoderamento de algumas poucas representantes. Não podemos cair na armadilha de pensar que a ocupação de determinado cargo de prestígio ou que o gozo das benesses desfrutadas por ocuparmos certas posições de poder repercutirão sobre as outras mulheres com a força de um exemplo a ser seguido, como a possibilidade de que “é possível chegar lá”.

Mesmo quando nos pensamos grandes ainda somos pequenas. O aumento da força de uma depende do aumento da força de todas, o que implica em identificar nossas diferenças, mas também considerar que os privilégios que detemos e fazemos questão de manter podem nos levar, no máximo, a um conforto individual e instável, mas que, se não forem transformados em direitos coletivos, não contribuirão efetivamente para a mudança significativa de um quadro de dominação secular que ajudamos a construir. Penso não somente nas mulheres que alcançaram posições de prestígio profissional, mas também naquela dona de casa da periferia que esquece da vizinha quando, a custo de muita economia, consegue comprar um carro popular usado e passa a se comportar “como se tivesse o rei na barriga”.

A influência cada vez mais crescente dos meios de comunicação na pressão pelo consumo desenfreado retira o foco de nós mesmas e passamos a, como robôs, perseguir a busca por aquisição de bens. Nesta tentativa desesperada de termos cada vez mais coisas, mesmo aquelas das quais não necessitamos, esquecemos das pequenas coisas que podem fazer a diferenças para outras. Falo não de bens materiais, mas de relacionamento, de considerar a outra, se importar com a sua vida, suas angústias e sofrimentos.

Na situação de competição frenética em que estamos colocadas não nos interessa o que a outra pensa, mas apenas que ela deve ser ou pensar para que possar ser considerada uma igual. É aí que mora o perigo, pois a luta das mulheres passa pela convergência de pessoas que necessitam, apesar das diferenças, se unir em prol de uma luta que mude a vida de todas, não importando se ela tenha a cor da pele ou cabelo que mais me agrade ou que diga exatamente aquilo que eu quero ouvir. Alguns grupos organizados, como partidos e associações, exercem um papel devastador para a consolidação da luta feminista, pois polarizam os grupos e dividem com base em critérios que, para nós mulheres, não nos tem contemplado nem se traduzem em resultados positivos na luta pela mudança da nossa condição. A socialista, a neoliberal ou a anarquista sofrem, em diferentes graus, dos efeitos da dominação ideológica de gênero, e não é pela via partidária que a luta feminista será fortalecida. Isto não significa que devamos virar as costas para a possível ampliação de espaço no poder formal.


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Movimento de mulheres: com ou sem mulheres? is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.

DISTORÇÃO NA LEI MARIA DA PENHA (Zelinda Barros)

“Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.” (Lei 11.340/2006 – Lei Maria da Penha)

O artigo acima traz uma cilada. Ele diz que a lésbica que comete violência contra outra lésbica, estando dentro dos requisitos acima elencados, também pratica violência contra a mulher. Isto não é verdade. E digo o porquê. Qualquer mulher que cometa um ato violento contra outra mulher pode ser caracterizada como violenta, mas ela não pode ser acusada de ter praticado “violência contra a mulher” porque este trata-se de um tipo específico de violência, que está referida à estrutura de gênero da sociedade em que vivemos, que privilegia os homens em detrimento das mulheres. Pode uma despossuída de poder numa estrutura de gênero desigual agredir uma outra despossuída? Você pode afirmar: “Sim, pode”. Também concordo. Entretanto, mesmo que esta mulher, em algum momento, obtenha alguma vantagem em relação à outra a quem agride, seja ela simbólica ou material, continuará sendo uma despossuída tendo em vista a nossa estrutura de gênero. São iguais em desgraça.
E vocês, amigas, o que acham?

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

DESCOMPASSO IDENTITÁRIO (Zelinda Barros)

No último dia 17, estávamos eu e minhas amigas Negramone e Rebeca Sobral reunidas para discutirmos o planejamento do projeto “Curso de Formação de B-girls” quando fomos surpreendidas por um telefonema de uma outra amiga, Karla, que dizia nervosa do outro lado da linha que nosso amigo Chico tinha sido preso na Lavagem do Bonfim. O clima leve, que até então tinha sido mantido intocado, foi quebrado. Chico, negro, rastafári, fora preso quando foi comprar uma cerveja e foi confundido com um dos homens que brigavam num bar. Ao tentar se defender das agressões dos policiais que desferiam golpes indistintamente em todos que ali estavam, foi injustamente preso, humilhado e agredido física e moralmente. Detalhe: os policiais também eram negros!

Essa face perversa do racismo sempre me intrigou... como nos violentamos com tanta agressividade e não temos força grupal suficiente para nos voltarmos contra o sistema racista que nos oprime. Aqueles policiais são pessimamente remunerados, têm que proteger o patrimônio dos mesmos que mantêm sua situação de sujeição e, em vez de se agruparem e buscarem forças para reverter esta situação a seu favor, simplesmente atingem aqueles que são tão ou mais vulneráveis que eles.

A ilusão de poder dada pela farda faz com que cometam as maiores atrocidades inclusive contra seus próprios irmãos, assassinando jovens negros a quem a vida não dá as mesmas oportunidades que os de outros segmentos em nossa sociedade... e eles também são os pais de jovens negros... também eles podem ter seus filhos assassinados injustamente ao serem confundidos com marginais apenas por serem negros... vocês podem afirmar: “Sim, mas identidade não é imposta, o sujeito precisa se reconhecer como tal”. Realmente, aqueles policiais não são negros, pois negros têm consciência do mal que nos atinge e preserva a vida do outro, seu irmão, e não o extermina.

Devemos nos voltar contra o roubo de milhões, bilhões, contra aqueles que nos roubam e a quem a Polícia e a Justiça defendem... não devemos nos voltar contra aqueles que são facilmente identificados como ladrões pela cor de pele... nós somos vítimas, e o que nos roubaram foi algo de um valor inestimável: a nossa propria identidade.