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E a danada da inveja, heim... xô! xô!

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quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

DESCOMPASSO IDENTITÁRIO (Zelinda Barros)

No último dia 17, estávamos eu e minhas amigas Negramone e Rebeca Sobral reunidas para discutirmos o planejamento do projeto “Curso de Formação de B-girls” quando fomos surpreendidas por um telefonema de uma outra amiga, Karla, que dizia nervosa do outro lado da linha que nosso amigo Chico tinha sido preso na Lavagem do Bonfim. O clima leve, que até então tinha sido mantido intocado, foi quebrado. Chico, negro, rastafári, fora preso quando foi comprar uma cerveja e foi confundido com um dos homens que brigavam num bar. Ao tentar se defender das agressões dos policiais que desferiam golpes indistintamente em todos que ali estavam, foi injustamente preso, humilhado e agredido física e moralmente. Detalhe: os policiais também eram negros!

Essa face perversa do racismo sempre me intrigou... como nos violentamos com tanta agressividade e não temos força grupal suficiente para nos voltarmos contra o sistema racista que nos oprime. Aqueles policiais são pessimamente remunerados, têm que proteger o patrimônio dos mesmos que mantêm sua situação de sujeição e, em vez de se agruparem e buscarem forças para reverter esta situação a seu favor, simplesmente atingem aqueles que são tão ou mais vulneráveis que eles.

A ilusão de poder dada pela farda faz com que cometam as maiores atrocidades inclusive contra seus próprios irmãos, assassinando jovens negros a quem a vida não dá as mesmas oportunidades que os de outros segmentos em nossa sociedade... e eles também são os pais de jovens negros... também eles podem ter seus filhos assassinados injustamente ao serem confundidos com marginais apenas por serem negros... vocês podem afirmar: “Sim, mas identidade não é imposta, o sujeito precisa se reconhecer como tal”. Realmente, aqueles policiais não são negros, pois negros têm consciência do mal que nos atinge e preserva a vida do outro, seu irmão, e não o extermina.

Devemos nos voltar contra o roubo de milhões, bilhões, contra aqueles que nos roubam e a quem a Polícia e a Justiça defendem... não devemos nos voltar contra aqueles que são facilmente identificados como ladrões pela cor de pele... nós somos vítimas, e o que nos roubaram foi algo de um valor inestimável: a nossa propria identidade.