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E a danada da inveja, heim... xô! xô!

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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Pela coletividade (Zelinda Barros)

Movimentos sociais como o feminismo, que nas últimas décadas têm sido responsáveis pela renovação da agenda política e reorientação na formulação de políticas públicas, convivem em seu momento atual com uma fragmentação interna que, em vez de refletir a saudável pluralidade política na luta por afirmação de direitos de maiorias tornadas minoritárias, tem sido extremamente prejudicial à ampliação de suas ações. Na medida em que interesses de grupos que acederam ao poder público formal reproduzem práticas outrora denunciadas quando se constituíram em forças com propósitos transformadores, a credibilidade dos grupos que ainda se dedicam seriamente a atividades indispensáveis à consolidação democrática aos poucos é comprometida. É necessária uma mudança similar à que deve ocorrer na economia, voltada majoritariamente à reprodução auto-referenciada de capitais especulativos. A alienação do capital, constituído em valor em si mesmo, é comparável à alienação provocada pela busca do “empoderamento” das mulheres, palavra recorrentemente utilizada como artifício justificador da manutenção das hierarquias racial e de gênero. Muitas ações que são ditas “empoderadoras”, como oficinas, cursos e outros, muitas vezes escondem justamente o seu compromisso com a manutenção de fronteiras e reprodução de práticas discriminatórias ou contribuem para que as desigualdades prossigam intocadas. Não é o caso de abolirmos tais iniciativas, que em si não são prejudiciais, mas prestarmos atenção ao processo no qual elas são forjadas. Muitas vezes persiste a mesma distribuição desigual de atribuições, a mesma busca pelo destaque individual e o desrespeito às diferenças que se diz considerar. Na estrutura formal, chegamos a um ponto em que os grupos que defendem interesses de gênero e raciais se alternam e são mantidas divisões que contribuem para o insucesso das ações propostas. Ou não há, no contexto atual, nenhum elemento que nos credencie a afirmar a possibilidade de construção de identidades coletivas - o que eu ainda duvido, ou temos aí a necessidade de uma profunda reflexão acerca dos rumos que estamos imprimindo à luta por interesses coletivos e da alteração desses rumos. Insisto mais uma vez: a pluralidade é saudável e necessária, mas o desrespeito, a desqualificação, a auto-promoção, a busca desenfreada pelo “poder” são fortes ingredientes de um processo estéril e autofágico em movimentos em que são propostas ações que visem à coletividade.

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