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E a danada da inveja, heim... xô! xô!

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quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

CONFUSÃO DE TERMOS MANTENDO PRIVILÉGIOS (Zelinda Barros)

Uma revista semanal de circulação nacional publicou uma matéria em junho de 2007 ("O perigo de classificar os brasileiros por raça") em que se insiste no artifício de confundir os termos do debate sobre desigualdade no Brasil a fim de desqualificar as tentativas de correção de desigualdades baseadas na idéia de raça. É óbvio que raças biológicas não existem e que quem defende políticas reparatórias não pretendem, como afirmam os "ingênuos" repórteres, "...avaliar as pessoas não pelo conteúdo de seu caráter, mas pela cor da pele." É justamente contra este tipo de prática, que contribuiu para a super-representação da população negra entre os mais pobres e atribuiu cor à pobreza e à riqueza neste país, que a defesa de ações que criem oportunidades para os que até então foram (e são) tratados como cidadãos de segunda classe se faz necessária.
Tornou-se lugar comum, no processo de ataque contra as políticas de promoção da igualdade, mobilizar a genética e sua defesa da não existência de raças até mesmo quando os "anti-racistas" universalistas constroem seus argumentos utilizando-se de modo recorrente de termos que fazem referência ao debate racial que eles dizem ter deixado para trás: miscigenação, mulata, diferenças raciais...
O diferencial desta mobilização contemporânea da biologia para a promoção do "bem", ou a defesa da igualdade universal, contra o "mal", ou a sinalização e tentativa de correção de problemas sociais, é a inversão que a acompanha. Se no século XIX argumentos biológicos foram mobilizados para justificar a dominação européia exercida sobre povos não ocidentais, atualmente a suposta afirmação da igualdade dos seres humanos recorre justamente a argumentos biológicos para a manutenção de desigualdades, só que agora revestidos de propósitos humanitários.
Não podemos ignorar que o uso contemporâneo de raça para legitimar desigualdades persiste para além da genética, pois não é preciso acionar o mapa genético de ninguém para verificar a perpetuação de situações de discriminação. Não adianta identificar os 67,1% de ascendência européia de Neguinho da Beija-Flor ou os 96,8% de ascendência africana de Sandra de Sá. Não é de genética que se trata... basta analisarmos o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos segmentos populacionais branco e negro, consultarmos as estatísticas de jovens negros mortos pela Polícia ou verificarmos os dados sobre saúde da população negra para termos certeza de que não se trata disso.
O medo do reconhecimento do racismo como problema social que nos afeta é acompanhado do temor de leis que supostamente institucionalizariam o racismo no país (sic). Na educação, as iniciativas bem-sucedidas que fogem ao procedimento equívoco adotado pela UnB na identificação dos estudantes negros que devem ingressar na universidade e reverter a estatística perversa de apenas 2% de negros no ensino superior são deixadas para trás. Prefere-se recorrer ao argumento de que as cotas ferem o princípio do mérito acadêmico mesmo quando temos resultados de avaliações de universidades como a UFBA, que atestam que o desempenho dos estudantes que ingressaram via sistema de cotas é igual ou superior aos não-cotistas.
Na matéria, recorre-se ao argumento pífio de que após a abolição "...nunca houve barreiras institucionais aos negros no país", mesmo quando tivemos o total descaso do governo brasileiro de então em relação à população negra, que ficou à mercê de sua própria sorte enquanto conviviam com incentivos à imigração européia. A pobreza negra continua a ser atribuída, mesmo depois de 119 anos de "abolição da escravatura", a fatores históricos - como se sobre estes não interferissem fatores políticos e econômicos. Subjaz a este argumento a idéia de que se nós negros somos pobres é porque não tivemos a capacidade de superar as amarras da pobreza com a "criatividade" que outros segmentos tiveram para atualmente desfrutar de posição privilegiada em relação à nossa. Não está implícito aí o pressuposto racista de inferioridade dos negros?
O problema do racismo brasileiro é que ele contribuiu e contribui para a manutenção de privilégios a custa do silêncio e, muitas vezes, da conivência de quem é prejudicado por ele: nós negros. Na medida em que o racismo que não se revela é denunciado por ações que põem à nu o seu modus operandi e mostram de que forma os privilégios são mantidos, surgem ataques fundados em argumentos extremamente frágeis, como a afirmação do "orgulho da beleza de nossas mulatas". Se esta beleza fosse motivo de orgulho não teríamos uma televisão dominada por louras, onde as mulheres negras atuam quase sempre como assistentes e coadjuvantes. Dizer que "...o casamento entre brancos e negros no Brasil é um fato do cotidiano e não causa atenção" é fechar os olhos para o fato de que no país apenas 20% do total das uniões ocorrem entre pessoas de grupos de cor distintos. Apela-se para a nossa histórica "convivência amigável" ignorando-se que a tolerância ao diferente ocorre desde que este não ouse ultrapassar as fronteiras estabelecidas.
A única cegueira verificada no Brasil até então é em relação à situação dos negros e não à cor, pois ela é um poderoso combustível desta máquina que mantém privilégios em virtude do fenótipo dos indivíduos. Um país que ama aos seus cidadãos indistintamente não permite que membros de segmentos específicos gozem privilégios em detrimento de outros.

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Confusão de termos mantendo privilégios is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.

PROJETO NEOJIBÁ ABRE PRÉ-INSCRIÇÕES

Basta ter idade entre 8 e 18 anos; interesse em algum instrumento de orquestra (à exceção do piano); disponibilidade para comparecer às atividades de segunda a sexta, no período da tarde, e não precisa saber tocar nem possuir o instrumento. Esses são os critérios para a pré-inscrição na segunda fase do Projeto NEOJIBÁ - Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia, lançado no ano passado sob a coordenação do gestor artístico da Orquestra Sinfônica da Bahia, Ricardo Castro. Os interessados devem preencher a ficha de pré-inscrição, disponível na Internet e também na portaria do Teatro Castro Alves. Mais informações pelo telefone (71) 3339-8085 ou no e-,mail neojiba@gmail.com. A partir daí, será criado um cadastro de nomes que poderão ser chamados na continuidade do projeto.

O PROJETO - Trata-se de uma ação prioritária do Governo do Estado da Bahia, promovida pela Secretaria de Cultura e realizada pela Fundação Cultural e Teatro Castro Alves, sob gestão da Orquestra Sinfônica da Bahia e em intercâmbio com a FESNOJIV - Sistema Nacional das Orquestras e Coros Juvenis e Infantis da Venezuela. O NEOJIBÁ é uma iniciativa inédita na Bahia e tem como objetivo promover a integração social através da prática orquestral, com a formação de núcleos de orquestras juvenis e infantis em Salvador e em cidades do Interior. O projeto é financiado pelo governo estadual com a captação de recursos através da Lei Rouanet. O primeiro fruto do NEOJIBÁ foi conferido pelo público baiano no segundo semestre do ano passado, com a estréia da Orquestra Sinfônica Juvenil Dois de Julho, no palco do TCA, seguida de outras apresentações pela cidade.

FONTE: http://www.tca.ba.gov.br/neojiba/preinscricaofase2.htm


UM SUCESSO!

Foi um sucesso a abertura do Curso de Formação de B-Girls, ocorrida ontem, 16 de janeiro. Quase cinquenta candidatas disputavam com afinco uma vaga no curso, ensaiando passos de dança. A B-girl Negramone, que conduzia o processo de seleção junto com Paula Azeviche e eu, dava as diretrizes para meninas e mulheres entusiasmadíssimas. O nível da seleção foi muito bom, com uma organização impecável, o que faz com que o curso prometa muitas coisas boas pela frente. Quem viver verá!

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

QUEM EU SOU (Zelinda Barros)

Não sou morena
Tampouco escurinha
Quem eu sou?
Negra

Subverto a ordem e a regra
Desarmo o sistema e revelo a sua cor
Quem eu sou?
Negra

Exalo minha ancestralidade através do ato
Pouco importa se a cor da minha pele é preta de fato
Quem eu sou?
Negra

Sou mulher por insistência
Conheço e desafio essa referência
Quem eu sou?
Negra

A voz que tentam sufocar
O meu corpo exala numa ginga, num pensar
Quem eu sou?
Negra

Rompendo as amarras mostro minha cara
E as garras mostro a quem me obriga
Quem eu sou?
Negra

Mesmo que tentem oprimir, diminuir, fazer desistir
Que continuem a abalar, desqualificar, desafiar
Por nada deixarei de ser e me afirmar
Negra

CURSO DE FORMAÇÃO DE B-GIRLS


O Núcleo de Mulheres da Rede Aiyê de Hip Hop abriu inscrições p

O Núcleo de Mulheres da Rede Aiyê de Hip Hop abriu inscrições para o Curso de Formação de B-Girls. O curso, apoiado pelo Fundo Ângela Borba de Recursos para Mulheres, é voltado a mulheres jovens a partir de 14 anos, moradoras de bairros periféricos de Salvador, e ocorrerá em 12(doze) encontros (aos sábados) nos meses de janeiro a abril do ano corrente. As interessadas poderão participar da seleção pública em que serão escolhidas 25 participantes, que receberão auxílio para transporte e alimentação no decorrer do curso. A seleção acontecerá no dia 16 de janeiro, no Teatro Gregório de Matos, a partir das 17 horas. Maiores informações nos telefones (71) 9995-7611 e 3497-3152 (falar com Negramone) e e-mail redeaiyehiphop@yahoo.com.br


O que é B.girl?

Mulher ou menina que dança os diferentes gêneros na dança de rua no Hip–Hop: Breaking, Locking, Popping entre outros. O termo foi criado pelo DJ Kool Herc para se referir àquelas que dançavam na roda ao som do DJ. A dança de rua, criação da juventude negra latina dos Estados Unidos na década de 60, é um dos elementos da cultura e movimento HipHop surgidos no contexto de político de guerra de Vietnã, movimentos por direitos civis, denúncia de desigualdades sociais e econômicas, afirmação de identidades e reconhecimento da história e lideranças negras.

domingo, 13 de janeiro de 2008

COTA PARA NEGROS NA UFBA: PERCURSO E PERCALÇOS (Zelinda Barros)

O Programa de Ações Afirmativas da Universidade Federal da Bahia (UFBA), surgido a partir da pressão exercida por organizações negras locais em busca de igualdade de condições no acesso e permanência de estudantes negros na universidade, completa três anos de implantação sem que questões fundamentais para a garantia de efetividade de suas ações tenham sido adequadamente consideradas. Muita confusão ainda existe a respeito do significado e importância de ações desta natureza e o uso político da ignorância a respeito do tema tem justificado distorções no planejamento e direcionamento das ações aos grupos que dela devem ser beneficiários.

As ações do Programa de Ações Afirmativas da UFBA, na medida em que se orientam à preparação dos candidatos ao Concurso Vestibular, à realização do Concurso, ao incentivo à permanência dos aprovados e ao acompanhamento e avaliação das políticas adotadas, cumprem parcialmente os objetivos a serem alcançados para a garantia de efetiva inserção da população afro-descendente na universidade. As ações de incentivo à permanência, fundamentais para a garantia da permanência do contingente de jovens negros que ingressaram via sistema de cotas na UFBA não têm a necessária continuidade assegurada. Os poucos projetos e programas existentes (b) têm curtíssima duração e envolvem pequeno número de estudantes, o que contribui para a reprodução da desigualdade interna ao segmento dos cotistas.

Tendo em vista que a educação formal brasileira somente com o advento da Lei de Diretrizes e Bases e da Lei 10.639/03 permitiu a inclusão de temas até então pouco discutidos no ambiente escolar, como pluralidade cultural e desigualdades raciais e de gênero, podemos observar que os professores carecem de formação específica para o trabalho com estes temas em sala de aula. Tal situação aponta tanto para a necessidade de mudança na estrutura dos currículos educacionais como para a necessidade de garantir aos profissionais que já atuam em sala de aula a formação específica para o trabalho com temas transversais.

Apesar de previsto em seu Programa de Ações Afirmativas, a UFBA ainda não incluiu nos currículos dos cursos de Licenciatura os conteúdos determinados pela lei, o que contribui para a formação de profissionais despreparados para o trabalho com a História e Cultura Afro-brasileiras. Diante de tal quadro e da importância das ações afirmativas para a criação de uma sociedade verdadeiramente igualitária, torna-se imprescindível o fortalecimento dos pontos frágeis do Programa de Ações Afirmativas idealizado pela UFBA. Somente seguindo à risca seus princípios e ações programadas, teremos na Universidade Federal da Bahia um modelo a ser replicado nacionalmente.

(a) Antropóloga, Mestra em Ciências Sociais, trabalha com consultoria a projetos sociais nas áreas de gênero e raça/etnia.

(b) Programa Preparatório para a Promoção da Igualdade Étnico-racial na Educação e Diálogos Cotistas, do CEAO, Programa Conexões de Saberes, da Pró-Reitoria de Assistência Estudantil, Programa AfroAtitude, do Programa A Cor da Bahia (FFCH).



DIAS DE ATIVISMO...




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