Certos fatos ocorridos no meio ativista negro, especialmente o feminino, me deixam perplexas. Recentemente,
fui informada de que fui exposta publicamente de maneira ilegal e desrespeitosa.
Quem me informou, alegou uma indignação difícil de acreditar, visto que tomou
conhecimento da situação e não me informou imediatamente sobre o ocorrido para
que pudesse tomar as providências cabíveis, como seria de se esperar num caso
desses.
É incrível como falamos tanto
em sororidade, mas investimos pouco, ou quase nada, em proteção mútua. No
fundo, parece-me que não conseguimos nos livrar efetivamente do condicionamento
a que o racismo/sexismo nos submeteu historicamente, pois, politicamente, nos
comportamos de forma a não tornarmos público nosso desconforto com relação a
determinadas práticas e nos conformamos em negociar nosso silêncio em troca das
migalhas que o sistema nos oferece. Nos satisfazemos em comentar, muitas vezes
em tom malicioso, sobre situações vexatórias ocorridas com pessoas negras sem termos o pudor de, ao fazê-lo, revelarmos nossa covardia, que alimenta
mais e mais situações de violência.
Isso não significa, de forma
alguma, que concordo com certa prática recorrente, que é fechar os olhos para erros cometidos individualmente ou evitar apontar um problema para não ter que buscar
soluções coletivas. Até por minha prática profissional, sou professora, não
costumo omitir erros, pois sei que, mesmo doloroso, esse processo é mais
construtivo do que simplesmente fazer de conta que está tudo bem e exigir cada
vez menos de nós próprias/os. Isso seria, de certa forma, concordar com o
próprio racismo, pois um dos seus postulados é que não temos a mesma capacidade
de desenvolvimento que outros grupos étnico-raciais. Prefiro ser a “antipática”,
que aponta os erros e contribui para corrigi-los, do que a “boazinha”, que
aprova todas/os para se livrar do problema e se tornar popular. O que não quer
dizer que seja infalível, muito pelo contrário. Se reivindico,
para nós negras/os, o reconhecimento da nossa humanidade, luto por isso sabendo
que há aspectos negativos e positivos em sermos humanas/os: fome, desigualdade,
guerra, destruição do meio ambiente, inveja, arrivismo, mas também amor, solidariedade, altruísmo..
.
Feliz ou infelizmente, não
consigo fazer o jogo que muitas/os jogam atualmente, que implica no riso fácil e
no tapinha nas costas na presença de alguém e no ataque rasteiro e insidioso em
sua ausência.
A reflexão que nos resta a
fazer nesse momento é:
Será que o desrespeito às
nossas diferenças prevalecerá?
Será que a inveja prevalecerá?
Será que o gosto pela fofoca é
maior que o gosto pela vitória alheia?
Será que o gozo pela derrota
da/o outra/o é maior que o gozo pela derrota do racismo/sexismo?