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E a danada da inveja, heim... xô! xô!

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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Pela coletividade (Zelinda Barros)

Movimentos sociais como o feminismo, que nas últimas décadas têm sido responsáveis pela renovação da agenda política e reorientação na formulação de políticas públicas, convivem em seu momento atual com uma fragmentação interna que, em vez de refletir a saudável pluralidade política na luta por afirmação de direitos de maiorias tornadas minoritárias, tem sido extremamente prejudicial à ampliação de suas ações. Na medida em que interesses de grupos que acederam ao poder público formal reproduzem práticas outrora denunciadas quando se constituíram em forças com propósitos transformadores, a credibilidade dos grupos que ainda se dedicam seriamente a atividades indispensáveis à consolidação democrática aos poucos é comprometida. É necessária uma mudança similar à que deve ocorrer na economia, voltada majoritariamente à reprodução auto-referenciada de capitais especulativos. A alienação do capital, constituído em valor em si mesmo, é comparável à alienação provocada pela busca do “empoderamento” das mulheres, palavra recorrentemente utilizada como artifício justificador da manutenção das hierarquias racial e de gênero. Muitas ações que são ditas “empoderadoras”, como oficinas, cursos e outros, muitas vezes escondem justamente o seu compromisso com a manutenção de fronteiras e reprodução de práticas discriminatórias ou contribuem para que as desigualdades prossigam intocadas. Não é o caso de abolirmos tais iniciativas, que em si não são prejudiciais, mas prestarmos atenção ao processo no qual elas são forjadas. Muitas vezes persiste a mesma distribuição desigual de atribuições, a mesma busca pelo destaque individual e o desrespeito às diferenças que se diz considerar. Na estrutura formal, chegamos a um ponto em que os grupos que defendem interesses de gênero e raciais se alternam e são mantidas divisões que contribuem para o insucesso das ações propostas. Ou não há, no contexto atual, nenhum elemento que nos credencie a afirmar a possibilidade de construção de identidades coletivas - o que eu ainda duvido, ou temos aí a necessidade de uma profunda reflexão acerca dos rumos que estamos imprimindo à luta por interesses coletivos e da alteração desses rumos. Insisto mais uma vez: a pluralidade é saudável e necessária, mas o desrespeito, a desqualificação, a auto-promoção, a busca desenfreada pelo “poder” são fortes ingredientes de um processo estéril e autofágico em movimentos em que são propostas ações que visem à coletividade.

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Pela coletividade is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 India License.

domingo, 30 de novembro de 2008

Para mudar, alter-estima

A partir da observação de intervenções de colegas feministas e da experiência de trabalho com estudantes cotistas nos últimos meses, tenho refletido bastante sobre as ações desenvolvidas em oficinas e sobre sua efetividade. Durante muito tempo investimos na “recuperação da auto-estima” dos(as) participantes, como se ela garantisse, em grande parte, o desdobramento satisfatório das intervenções. Claro que é importante que qualquer pessoa reconheça e goste de si mesma, mas hoje penso que a consideração da auto-estima como prioritária na mobilização à ação social transformadora não é suficiente, pois o principal problema não é o “eu”, mas o(a) “outro(a)”. O investimento deve ser feito na “alter-estima”, pois falta muita consideração e respeito ao outro, e muitas vezes a supervalorização de nós mesmos(as) não nos permite ver e considerar as necessidades das outras pessoas com as quais interagimos - mesmo aquelas que consideramos “iguais”. Não falo da coletividade anônima referida nos estudos macrossociológicos. Me lembro de uma queixa feita por um ativista negro a respeito da incoerência entre aqueles(as)que proferem discursos impactantes acerca de questões coletivas, mas são incapazes de sequer dar um “Bom dia” a pessoas que ocupam posições de menor status ocupacional, como porteiros, zeladores(as) e garis, ou até mesmo companheiros de ativismo de menor prestígio.

Atualmente, as pessoas estão tão auto-referenciadas que até mesmo um “Oi, tudo bem?” se tornou um ritual vazio, pois quem pergunta não quer saber a resposta e nem mesmo pára para ouvir se você está realmente bem ou mal. Eu vejo com muito bons olhos o avanço, em termos institucionais, provocado pela ação dos movimentos sociais, mas percebo que necessitamos agora de um redimensionamento. Institucionalmente, muito já foi e ainda precisa ser feito, mas não devemos perder de vista que instituições são feitas por pessoas, que estas pessoas têm sentimentos, aspirações e agem a partir de seus próprios lugares, suas vivências, perspectivas... é preciso tocar as pessoas, trazê-las para a ação coletiva não somente porque têm a mesma religião, cor, gênero ou ideologia que nós, mas porque a vida na terra depende de todos(as). E esta convergência é necessária não apenas entre aqueles(as) que tradicionalmente são vistos(as) e se vêem como oponentes mas, principalmente, entre os(as) chamados(as) “companheiros(as)”, que muitas vezes se calam vergonhosamente quando vêem o(a) outro(a) em perigo ou em situação vexatória. Me lembro de um colega de trabalho de meu pai, “amigo” de farras constantes que, num assalto ao local onde trabalhavam, fugiu e o deixou pra trás sem nem mesmo prestar socorro enquanto o amigo era vítima de um atentado.

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sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Representações do pensamento social acerca do casamento inter-racial (Zelinda Barros)

RESUMO

Alguns estudos demonstram como opera o conceito de raça em nossa sociedade e a persistência da interdição do casamento entre indivíduos considerados racialmente diferentes, o que nos leva a refletir sobre a importância e a influência da raça como categoria social e as representações existentes a respeito do casamento inter-racial. Neste artigo, são apresentadas e discutidas as representações sociológicas dominantes sobre o casamento inter-racial, muitas vezes reduzidas a uma visão monológica das relações raciais. Após criticar esta concepção, discuto as mudanças ocorridas no casamento e, por fim, proponho uma nova maneira de analisar os casamentos inter-raciais.

Palavras-chave: casamento, raça, representações, casais inter-raciais.

Onde encontrar? http://www.enfoques.ifcs.ufrj.br/marco08/03.htm

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O poder que sacia a sede dos(as) gananciosos(as)
é água salobra pra o meu paladar...

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

"Pouco conhecimento faz com que as criaturas se sintam orgulhosas. Muito conhecimento, que se sintam humildes. É assim que as espigas sem grãos erguem desdenhosamente a cabeça para o céu, enquanto que as cheias a baixam para a terra, sua mãe".

Leonardo da Vinci

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

"O tom da cor", por Miriam Leitão

Só há o pós, depois do antes. Só se chega, depois da caminhada. Só se reúne o que esteve separado. Entender a diferença não é querê-la, pode ser o oposto. A imprensa brasileira, tão capaz de ver as desigualdades raciais nos Estados Unidos, tão capaz de comemorar um presidente negro, prefere, em constrangedora maioria, o silêncio sobre a discriminação no Brasil.

Lendo certos artigos, editoriais e escolhas de edição sobre a questão racial no Brasil, me sinto marciana. Sobre que país eles estão falando, afinal? Com que constroem argumentos e enfoques tão estranhos? Por que ofender com o espantosamente agressivo termo “racialista” quem quer ver os dados da distância entre negros e brancos no Brasil? Não é possível estudar as desigualdades sem pesquisar as diferenças entre os grupos. Não se estuda sem dados. No Brasil, há quem se ofenda com a criação de critérios para levantar os dados de cor como se isso fosse uma ameaçadora “classificação racial”.

Veja-se a cena que está nas abundantes e belas imagens da vitória americana. Há várias tonalidades de pele no grupo que se define como afro-americano. Aqui, sustenta-se que miscigenação é exclusividade nossa e que ela eliminou as diferenças. Os pardos (ou mulatos, como alguns preferem) e os pretos (como define o IBGE) estão muito próximos em inúmeros indicadores e estão muito distantes em relação aos brancos. Medir a distância que ambos têm em relação aos brancos não é uma forma perversa de negar a miscigenação. Medida à distância, é preciso conhecer suas razões. Só assim é possível construir as pontes que ligam as partes.

O presidente Barack Obama fez a campanha por sobre as diferenças raciais, por vários motivos. Primeiro, por estratégia eleitoral: falava para um país majoritariamente branco. Qualquer candidato que escolha apenas um grupo perde a eleição. Ganha-se a eleição construindo-se coalizões. Ele formou a dele com os 90% de votos dos negros, 60% de votos dos latinos e 45% de votos dos brancos. Como há muito mais brancos no país, em termos numéricos, recebeu em termos absolutos mais votos dos brancos. Vitória americana sobre sua própria História.

Outro motivo é que ele veio “após”. Ele não precisava do discurso de reivindicação de direitos, porque ele já foi feito na gloriosa caminhada que conquistou tanto. Um esforço que exige novos passos, mas que é extraordinariamente bem-sucedido.

Obama não precisava acentuar sua condição de negro. Ele é. Por isso, os jornais do mundo inteiro comemoraram “o primeiro presidente negro”. Ele também é filho de branco, mas por que isso não causa espanto? Ora, porque os brancos são a etnia dominante. A novidade está em sua origem negra. O jornalismo destaca o novo, e não o fato banal.

Certas análises no Brasil se perderam em encruzilhadas, tentando adaptar os fatos a suas interpretações do que sejam as diferenças entre os dois países. Lá e cá houve e há discriminação. Lá, não negaram e evoluíram. Aqui, nos perdemos em questiúnculas desviantes, quando o central é: há desigualdades raciais e elas são intoleráveis. Pessoas que pensam assim se esforçam para entender as razões e as raízes das desigualdades, se debruçam sobre os dados, não negam problema existente. A libertação vem da verdade conhecida.

Quem não sabe, a esta altura, que o conceito de “raça” é falso? É bizantino repetir isso. Discutir a desigualdade racial não é a forma de “racializar” o país, mas sim constatar um problema, criado sobre um artificialismo, e que exige superação. Racializado ele já é, com esta vergonhosa ausência dos negros (pretos e pardos), de todos os círculos, do poder no Brasil.

Comemorar a vitória em terra alheia, negando a existência da derrota em casa, é uma escolha que tem sido feita com insistência no Brasil. Na festa de Obama, isso se repetiu. Aqui se vai da negação do problema à condenação de todo tipo de instrumento usado para enfrentá-lo. Tudo é acusado de ser “racialista”: constatar as desigualdades, apontar suas origens na discriminação, tentar políticas públicas para reduzi-las. Argumentam que temos que melhorar a educação pública. Claro que temos, sempre tivemos. É urgente que se faça isso. Alguém discute isso?

A diferença entre a forma como o racismo se manifesta nos Estados Unidos e no Brasil não pode ser usada para perdoar o nosso. Aqui, vicejou a espantosa idéia da escravidão suave, como viceja hoje a idéia de que temos uma espécie de “racismo benigno” ou “apenas” uma discriminação social que atinge os negros pelo mero acaso de serem eles majoritários entre os pobres. São palavras que se negam. Este tipo de violência não comporta o termo “benigno”, como nenhuma escravidão pode ser suave, por suposto.

Segunda-feira vou ao Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais da UFRJ ver o lançamento do Mapa Anual das Desigualdades Raciais. Vou para olhar de novo os dados, conversar de novo com negros e brancos que estudam o assunto, aprender mais um pouco, procurar, esperançosa, algum avanço. Não acho que essa é uma conversa perturbadora da nossa paz social. Não acredito na paz que nega o problema. Acho lindo o sonho dos americanos, mas quero sonhar o meu.

(O Globo, 7/11/2008)

domingo, 10 de agosto de 2008

Recebi esta fábula de uma aluna minha e acho interessante para refletirmos sobre a necessária articulação entre nós mulheres de distintas procedências étnico-raciais, sexuais, ideológicas, religiosas...

"'Um rato, olhando pelo buraco na parede, vê o fazendeiro e sua esposa abrindo um pacote .
Pensou logo no tipo de comida que poderia haver ali.
Ao descobrir que era uma ratoeira ficou aterrorizado. Correu ao pátio da fazenda advertindo a todos:
- Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa!.
'A galinha , disse: ' Desculpe-me Sr. Rato, eu entendo que isso seja um grande problema para o senhor, mas não me prejudica em nada, não me incomoda.'
O rato foi até o porco e lhe disse: 'Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira !'.
'Desculpe-me Sr. Rato, disse o porco, mas não há nada que eu possa fazer,a não ser rezar . Fique tranqüilo que o senhor será lembrado nas minhas preces .'
O rato dirigiu-se então à vaca. Ela lhe disse: '- O que Sr. Rato? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo? Acho que não !'
Então o rato voltou para a casa, cabisbaixo e abatido, para encarar a ratoeira do fazendeiro.
Naquela noite ouviu-se um barulho, como o de uma ratoeira pegando sua vítima .
A mulher do fazendeiro correu para ver o que havia pego.
No escuro, ela não viu que a ratoeira havia pego a cauda de uma cobra venenosa . E a cobra picou a mulher...
O fazendeiro a levou imediatamente ao hospital. Ela voltou com febre.
Todo mundo sabe que para alimentar alguém com febre, nada melhor que uma canja de galinha.
O fazendeiro pegou seu cutelo e foi providenciar o ingrediente principal .
Como a doença da mulher continuava, os amigos e vizinhos vieram visitá-la.
Para alimentá-los o fazendeiro matou o porco.
A mulher não melhorou e acabou morrendo.
Muita gente veio para o funeral.
O fazendeiro então sacrificou a vaca, para alimentar todo aquele povo.
Na próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e acreditar que o problema não lhe diz respeito, lembre-se que, quando há uma ratoeira na casa , toda a fazenda corre risco .

'O problema de um é problema de todos, quando convivemos em equipe.'"

segunda-feira, 14 de julho de 2008

A ilusão do poder (Zelinda Barros)

A luta das mulheres se institucionalizou... e o que isto significa? Inúmeros ganhos, sem dúvida, mas perdas também. Boa parte das perdas está atrelada ao fato de que os ganhos ocorreram num contexto político em que tudo é tornado moeda de troca, até mesmo as convicções morais. Visando “ganhos” para as mulheres, passamos a um estágio em que a dimensão da troca afetiva, da lealdade, do cuidado com a outra passou a ser visto como piegas – o importante é poder...

“Poder” o quê mesmo? Poder dissimular, poder trapacear, poder tecer intrigas, poder definir quem pode, poder, poder, poder... Estamos num turbilhão, mas... para onde vamos?

É preciso um repensar e um agir urgentes no sentido de retomarmos algo que na educação das gerações passadas era dado pela força do exemplo. Como seguir algo ou alguém em que/quem não se acredita? Como agir com solidariedade, se muitas alcançam o poder e beneficiam as que fazem parte do seu círculo, esquecendo tantas outras anônimas? Como ter esperança, se acordos são forjados com facções espúrias, antes antagônicas? Como confiar, se mal damos as costas e começam a nos difamar? Como falar em diversidade, se apenas as “iguais” fazem parte do círculo das eleitas?

É, mulheres, precisamos rever práticas, reforçar o que nos edifica e expurgar o que nos faz mal...
Apesar de tudo, confio na possibilidade de mudança e, assim como Martin Luther King em relação aos brancos, acho que “...precisamos acreditar que os mais desnorteados dentre eles podem aprender a respeitar a dignidade e o valor de cada personalidade humana.”(King, 18/09/1963)

A educação e a abertura à possibilidade de transformação são a base de tudo... quem comer desse pão viverá!

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Mais poesias... sentir e pensar... e agir!!! (Zelinda Barros)

MORTE

Todos negam o teu direito
Julgam que a ti podem preterir
Mas tu,
dama negra e bela
Leva-nos a um lugar mágico
e misterioso
onde todo gênio rende-se
à tua mais verdadeira sabedoria.
__________ x __________

SOLITUDE

A mim não faltam palavras,
A mim não faltam pensamentos
O que faltam são pessoas
A mim faltam momentos.

Triste sina
a de quem pensou que podia
E passou a vida a achar-se só
Pois, quando de súbito acorda
Vê-se impedido de desatar este nó.
__________ x __________

Os olhos vêem,
A boca sorri
Nem tudo o que vêem é belo
E o sorriso ainda permanece
O alimento à visão é raro
A boca alimenta-a com um sorriso.
__________ x __________


Nunca te vi
Sempre te admirei
Costumo te sentir
Nunca contigo estarei

Recolho-me ao som do silêncio
Que é a voz da solidão
Meu corpo com os olhos
a tua presença anseia
A mente abranda
o calor do coração
__________ x __________

Nada sei de novo
Tudo em mim já foi visitado
Unicamente visitado
Por mim mesma
Nas saídas sorrateiras da imaginação

Viajei em círculos
Não dei voz ao cansaço
Hoje,
vejo-me vazia de procura
Quero alguém
que resgate essa busca,
essa curiosidade por mim mesma.
__________ x __________

Gosto do nada,
que em si encerra mil possibilidades
Não simpatizo com o tudo,
que parece não admitir o vazio

A sensação de saciedade
me incomoda
Admiro a procura,
A busca constante
amo o instigante.

O nada sobrepõe-se ao tudo
mal feito
às esperanças inscientes
às necessidades vãs
aos desejos válidos
não saciados.
__________ x __________

Minha mente navega
como uma nau
desbravando novas terras
nesse mundo nodo
chamado imaginação

Não busco terra firme
Aprecio apenas a viagem
Que seja insólita enquanto dure!
__________ x __________
VIDA
Amiúde fútil
nas imagens que nos transmite
Cega
aos apelos da sorte
Nefasta
àquele a quem abraça a morte
Alegria
dos amorosos consortes
Tristeza
Do fraco, antes forte
Útil
como a cicatriz ao corte
__________ x __________

Me preocupa
A carência dos desvalidos
A insciência dos alienados
O arrivismo indecente
Me comove
A vida dos marginalizados
A ingenuidade dos carentes
A fraqueza da mente

Me revolta
A usura dos “ricos”
A desunião
O desamor
O desapego ao chão...
__________ x __________

POLIT...

Sórdidos otários
Arrivistas irracionais
Abutres mercenários
Homens de mente insana
de coração vazio

Políticos
nas palavras
Politiqueiros
nas ações
Raça de vermes!


Oxalá sejam expatriados
Sepultados
na sua pequenez moral
e materialismo burro.
__________ x __________
Sinto-me suja
Apesar da água
Sinto-me doente
Apesar da ciência
Sinto-me só
Apesar das pessoas

Sinto-me desprotegida
Apesar da polícia
Sinto-me em desarmonia
Apesar da natureza
Sinto-me... excluída
__________ x __________

Não se engane
Nunca poderei saciar-te
Matar tua fome,
tua sede

Sou como água salobra
Ao teu paladar
sou juá bravo
Sou ácido a corroer-te os sentimentos
Sou da cobra
o letal veneno
Leve à outra presença o teu pensamento
Não faça de tua vida um
Tor-men-to


__________ x __________

FILHA DA RUA

Menina descalça
Menina guerreira
A lua mãe
Pra ti sorri
à noite
Te aconchega
com sua luz materna extremosa
Promete dias melhores e sonhos
Pra colorir tua vida
curar tuas feridas

Não esqueça
em ti ela está presente
Toda noite não dorme
pra te agradar
As estrelas piscam brilhantes
pra teus sonhos iluminar
__________ x __________

PAISAGENS
Janela aberta
Visões passageiras
Por ti passam o moleque
A morena faceira

Capta momentos
Alimenta pensamentos
Tens a visão do homem na lida
És o esboço
Da magnânima vida!
PICHADOR DA CIDADANIA

Desce!
Seus gestos não são verdadeiros
Sua mente é vil e traiçoeira
Desce!
Iguala-se à sua altura moral,
à sua consciência perniciosa

Desce!
Devolve o lugar a quem trabalha,
a quem luta,
sua e, sobretudo,
raciocina
(Fica a promessa de figurar na história como é devido aos de sua espécie!)
__________ x __________

MARGINALIZADOS

Esbarram-se nas vielas
Convivem com a beleza pungente da vida
que só tem valor nas mãos do artista
Vivem (?!)
Conterrâneos da tristeza,
marginalizados
Desiguais?
Não. Humanos.
Portadores da condição que oprime,
insensibiliza,
flagela.
__________ x __________
BRILHO VÃO

Brilhar?
Como,
se a miséria ofusca os olhos dessa gente?
Quem há de me ver brilhar?
Como transpor as barreiras
E chegar à mente,
À alma
E transformar
A POBREZA MORAL
Em
SOLIDARIEDADE?
O quê?
Não diga que sou utopista
que sou ingênua
que sou rancorosa
por não querer ignorá-los e
RECOMEÇAR

Pergunto:
Feito o castelo de boas expectativas
Vê-lo destruído a ca-da-di-a
Como não sonhar,
Acreditar,
Decepcionar-se
RESSENTIR-SE?
__________ x __________


A fuga é útil
Amo a ele
Mas não ele a mim
Então sofro
Sofro só,
choro sozinha
E fujo.

Busco risos,
busco festa,
busco vinho,
Ele não encontro
Então, fujo.

Procuro disfarçar
Invento emoções que não sinto
Encubro a mim mesma
Continuo nessa procura
Busco o amor dele – ÚNICO
Espero que encontre o meu
Não consigo
Então... fujo.
__________ x __________

Construo castelos de sonhos
E me aprisiono neles
Num cárcere
Feito de imagens

Crio fantasias
Imagino um mundo que não me pertence
E ouso reinar sobre ele
Quando verdadeiramente me vejo
Encontro-me só

As pessoas que me cercam
quase não as vejo
Procuro outras
E quando não as encontro
fabrico

Me relaciono de forma íntima
Com seres etéreos
Travestidos de humanos
Enxergo olhares de ofuscante brilho
Mas... não sou eu quem os desperta

Penso e converso animadamente
com esses meus personagens
Amo, brinco,
brigo com eles
Talvez por medo de verdadeiramente amar,
brincar,
brigar
com pessoas.
__________ x __________

No primeiro contato
Foi como um camponês sem jeito
Sem saber como fazer para deixar à vontade um visitante citadino
Que me senti
Senti que o meu trivial,
o meu feijão de arroz acadêmico
poderia servir para, ao menos, estabelecer um contato
Porém,
percebendo que a minha intelectualidade de superfície não poderia proporcionar um contato que transcendesse o superficial
calei-me
Passei a observar e a maravilhar-me,
A aproveitar cada momento com você
Sua sutileza e seu olhar (Ah! O seu olhar...) me encantaram
Confesso que esses dias foram especialmente reveladores para mim
Encontrei-me com um ser que não sabia possível ser revelado a mim mesma (e, por mim mesma)
Graças a você...
Não sabia que tinha esse potencial
Não sei se vamos,
um dia
voltar a nos encontrar
Guardo essa lembrança-agradecimento
Lembrança
da possibilidade transformadora que foi o nosso encontro
Agradecimento,
por fazer de mim alguém mais apta
a captar os sinais de estar no mundo
com múltiplas pessoas,
dotadas de múltipla capacidade de amar.
__________ x __________

SOLIDÃO

Quando se está só
o mundo é mudo
mas toca bem no fundo
um samba de uma nota só.

Quando se está só
o tempo é longo
porém,
aguda e viva é a dor
de não poder ficar só

Se não estou só,
se a solidão não vem a mim por um segundo
não posso gozar da companhia
de quem me faz sol,
me faz mundo.
__________ x __________

AMIGOS

Amigos andam
Amigos abraçam
Amigos acompanham
Amigos aconselham

Amigos amam
Amigos querem bem
Amigos vigiam
Amigos brigam também

Quem não sabe ser amigo
Quem não sabe amar ninguém
Não enxerga a si mesmo
Nem o bem refletido em alguém.
__________ x __________

ESPERANÇA

Às vezes fala
Às vezes cala
Às vezes grita
Muitas vezes acalma

Às vezes choro
Muitas vezes riso
Às vezes corrida
Muitas vezes caminhada

Às vezes desilusão
Muitas vezes certeza
Às vezes desespero
Sempre, esperança.
__________ x __________

Quero a brisa
A brisa nordestina que traga fala mansa
Quero o sal
O sal
que o doce ressalta
Quero o sol
O sol
Reinando nas matas

Quero o dia
O dia
que abriga a noite
e a madrugada fria
Quero a vida
a vida que habita em mim
a vida que teu existir anuncia.
__________ x __________

O amor não morre,
Cochila
O amor não nega,
Abraça
O amor não prende
Liberta
O amor não tolhe
Incentiva
O amor não tem ciúme
Confia
O amor não passa
Permanece
O amor não une corpos
Une vidas
O amor não basta em si
Amplia-se
O amor não é indivisível
É compartilhado

Rasgos poéticos (Zelinda Barros)

Revendo coisas guardadas há muito tempo, encontrei os poemas e pensamentos abaixo, escritos quando tinha entre 14 e 21 anos. Me emocionei... leiam vocês também - e se emocionem... [pena que o que me indignava ontem continue tão presente hoje em dia...]

Não me apego ao passado
Não necessito do presente
Agarro-me ao fugidio futuro
Com a força das mãos
E a incerteza da mente.

Não convivo bem com o pré-estabelecido
É preguiça que não tenho
Sou um ser pensante
Não assimilo preconceitos
Antes, os rejeito
Pois têm o valor do que é gasto, inútil

__________ x __________

Histórias ocorridas
Ilusões passadas
Pessoas em diligência
Povo lento em sua
Diária maratona
Porvir indefinidamente impalpável.

__________ x __________

Aos meus inimigos,
perdôo
Aos falsos amigos,
repudio
Aos que me evitam,
respeito
aos que com falsos sorrisos a mim cobrem
Ah! Pra esses,
Guardo doces beijos amargos...

__________ x __________

Navegue num rio de lágrimas
E chegue a uma ilha de sonhos
e de desejos satisfeitos
ou... a um abismo de angústia
e frustração.

__________ x __________

O mal por si só não se destrói
Usando bem a criatividade
E abusando da solidariedade
Podereis controlá-lo.

__________ x __________

Falo a verdade pois a amo
Não aquela inventada, refutável
E sim a que é de mim nascida
A que vem das minhas origens
A que faz de mim livre e orgulhosa
Ciente da importância do grito
E da força do silêncio
A que me faz... cidadã.

__________ x __________

A MORTE, QUE PENA...

Loucos! Querem tirar o bem
de quem dele fez mal
Querem dizer sim à ignóbil execução
Querem calar o grito, o crime,
a má ação
E sujar de sangue a consciência numa atitude mortal

Vão implantar a pena
Com um ato vão tirar de cena
Aquele que da vida sonhada
não sentiu o sabor
Aquele que não respeitou a morte
e à vida não deu valor...

__________ x __________

Novos tempos,
novos dias,
Novas técnicas,
novas tecnologias

Novo momento,
nova era
Velhos preconceitos,
velhas quimeras...

Época de viver
Época de amar
Época de saber falar e escutar
Época de discorrer,
De lutar.

__________ x __________

Insone
em noite de lua cheia
Lobo uivante,
Nuvens de algodão

Insano
pelos desejos selvagens
que a mente audaz impõe
ao coração.

__________ x __________

Novas tendências,
novos mitos
Jogos de poder
e conflitos
Seguem-se os velhos ritos
Continuam dominando
[os ricos]

Instauram-se novos limites
Novas ordens sociais
Promovem a fome e a guerra
Negam a disseminação da paz.

__________ x __________

quinta-feira, 6 de março de 2008

E o terreno tá cada vez mais árido (Zelinda Barros)

E o terreno tá cada vez mais árido
tá cada vez mais árido o terreno...

Grilaram o campo da luta
nos matam de fome, nos violentam
e sorriem...

Sorriem pelo direito assegurado
pela violência debelada
pela morte da sanha de poder
por agora termos como fazer

Mas o terreno tá árido
tá cada vez mais árido o terreno...

Trocaram a letra da lei
querem nos aniquilar com o nosso próprio veneno
põe intenções em meus gestos
de forma que nem mesmo eu sei

E o terreno? Árido
tá cada vez mais árido o terreno

Irmãs desconhecem irmãs
trocam o Nós pelo Eu
competem e correm
e param
competindo na busca do que é(?) seu

E tá árido
cada vez mais árido o terreno...


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E o terreno tá cada vez mais árido is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.

segunda-feira, 3 de março de 2008

DICAS IMPORTANTES

Quer navegar por uns blogs interessantes? Experimente os blogs abaixo:

www.meublogcomtudodentro.blogspot.com – blog pessoal de Zelinda Barros, antropóloga

www.fazervaleralei.blogspot.com – blog com subsídios(livros, eventos, links) para auxiliar a implementação da Lei nº 10.639/03

www.socursosgratis.blogspot.com – divulgação de cursos, seminários e palestras grátis, prensenciais e à distância
www.trabalhartrabalhar.blogspot.com – blog voltado à divulgação de oportunidades de trabalho no Brasil, especialmente na Região Nordeste
www.casosecoisasdogenero.blogspot.com – blog com textos, poesias, divulgação de eventos relacionados à temática Gênero
www.trocatudosemdinheiro.blogspot.com – blog destinado à troca de objetos usados.
www.cursobgirls.blogspot.com – blog do Curso de Formação de B-Girl, promovido pela Rede Aiyê Hip Hop em parceria com o Fundo Ângela Borba de Recursos para Mulheres

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

DISTORÇÃO NA LEI MARIA DA PENHA - PARTE II

Dias atrás eu mencionei a brecha existente na lei Maria da Penha para que o fenômeno da violência contra a mulher fosse juridicamente desvirtuado. Na matéria publicada no Jornal A Tarde de 12 de fevereiro, transcrita abaixo, há um exemplo claro do que eu falava.

"Mulher é presa por agressão com base em lei Maria da Penha
Edson Borges, da sucursal Feira de Santana

A comerciária Renilda Santos Gonçalves, 19 anos, é a primeira mulher a ser presa em flagrante com base na lei Maria da Penha, criada, basicamente, para proteger o sexo feminino. Ela é acusada de ter jogado uma chaleira com água fervendo na sogra, a costureira Lucileide da Silva Moraes, de 52 anos, em Feira de Santana, e foi presa na manhã desta terça-feira, dia 12.

O sogro da comerciária, o petroleiro aposentado José Elizardo da Silva, de 75 anos, também sofreu com a agressão, quando tentou evitar a briga, e está internado na UTI do Hospital São Matheus.

“Renilda foi autuada pela agressão à sogra, mas o inquérito apresentará como agravante a situação do aposentado”, salientou a delegada titular da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), Martine Veloso.

Lucileide passa bem, apesar de ter sofrido queimaduras em boa parte da barriga. Renilda está presa no xadrez do Complexo Policial Investigador Bandeira. As duas se acusam mutuamente de ciúmes de Rogério Moraes Amorim, de 22 anos, filho da vítima e noivo da comerciaria.

A Tarde, CIDADES, 12/02/08."

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

A INCOERÊNCIA É O REGIME (Zelinda Barros)

Em uma de suas músicas, Caetano Veloso diz que aqui no Brasil “a indefinição é regime”. Discordo. Não há indefinição, há incoerência, pois publicamente muitos(as) defendem sem hesitação um determinado ponto de vista e, no aconchego do seu lar ou nos bastidores, agem de forma escandalosamente divergente. Chovem denúncias de políticos(as) que prometem moralidade, mas agem como verdadeiras aves de rapina quando se apropriam do erário público. Outros(as) se dizem defensores(as) dos Direitos Humanos, mas os únicos direitos que efetivamente defendem são os seus próprios, de seus familiares e/ou correligionários, em detrimento dos(as) demais. Para estes(as), a vida parece ser algo radicalmente defensável, desde que seja a sua própria ou a de seu grupo social, político ou étnico-racial. Muitos(as) se dizem anti-racistas, mas se calam vergonhosamente diante do sexismo e da homofobia; ou, se dizem anti-sexistas e/ou anti-homofóbicos(as) e são racistas. Um número expressivo de pessoas publicamente clamam por paz, mas alimentam a violência com o consumo desenfreado de drogas em suas festinhas e encontros privados. Há definição sim. Discursos bem estruturados, ideologicamente embasados, mas completamente vazios de sentido prático porque não se faz o que se diz. O “normal” é ter uma ética que privilegia a emissão pública de uma opinião afeita ao discurso politicamente correto, mas que é frouxa o suficiente para permitir o “jeitinho” quando for pessoalmente conveniente. Em vez da situação social que ora presenciamos, com o total descaso em relação à educação e à saúde dos menos favorecidos no país - que mata por ignorância e negligência, precisamos mais que urgentemente de uma "faxina moral".

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

MOVIMENTO DE MULHERES: COM OU SEM MULHERES? (Zelinda Barros)

Atualmente, fala-se que vivemos um novo momento para os movimentos sociais no Brasil. Grupos organizados em várias partes do país reivindicam políticas que contemplem os seus direitos. Os grupos de mulheres, como parte deste rol de grupos que questionam a lógica de um sistema que privilegia uns em detrimento de outras(os), também estão aí inseridos. Esta noção de que “há algo novo no ar” não necessariamente significa, a meu ver, novas formas de organização e sim que as desigualdades sociais hoje apresentam-se de tal forma que já não mais possível sofrer seus efeitos sem manifestar alguma forma de insatisfação. Este estado de coisas, no entanto, não nos leva a uma prática política transformadora, pois a organização necessária para a mobilização de mulheres encontra-se aquém do necessário para minimamente enfrentar as dificuldades que nos são impostas. A sensação que temos é de que estamos indo à luta contra armas das mais potentes e sofisticadas munidas de estilingues, o que nos coloca novamente em desvantagem. Mas qual a razão deste descompasso? Seríamos nós mulheres realmente menos capazes? Neste ensaio esboço algumas respostas a partir de inquietações que, para mim, nos dão pequenas pistas para responder a estas questões.

A institucionalização dos movimentos sociais - dentre eles o de mulheres, que hoje têm boa parte de seus quadros integrando as estruturas de governo, põe a nu questões não resolvidas pelos movimentos e que precisam ser entendidas não apenas como referidas a um movimento estratégico de cooptação pelo Estado ou à traição das(os) companheiras(os) seduzidas(os) pelo poder. A penetração de espaços até então não ocupados por mulheres, por exemplo, traz à tona o problema do relacionamento com o poder, do modo como lidamos com a possibilidade concreta de reversão de uma situação que pode contribuir para a modificação das nossas vidas.

As explicações de alcance macro podem ser tentadoras no sentido de dimensionarmos o problema como algo que não atinge exclusivamente a um determinado segmento de mulheres, mas a todas nós. No entanto, elas fazem com que percamos de vista minúcias que, para nós mulheres, que ao longo de nossa trajetória histórica nos ocupamos das “pequenas coisas”, são importantes para definição de um novo rumo na luta política. O sistema de dominação que impõe a nós mulheres a situação de desvantagem em relação aos homens, até mesmo por nossa própria iniciativa em favor deles, se alimenta de uma lógica que muitas vezes reproduzimos na tentativa de esboçar uma reação. Revela-se o mesmo desprezo pelo que é considerado de menor importância, de menor impacto: a relação face a face. É justamente a proximidade das relações que as mulheres historicamente forjaram que pode servir como potencial transformador da vida de todas as mulheres, não apenas das que são consideradas empoderadas ou que tentam a via do empoderamento das mulheres através do ilusório empoderamento de algumas poucas representantes. Não podemos cair na armadilha de pensar que a ocupação de determinado cargo de prestígio ou que o gozo das benesses desfrutadas por ocuparmos certas posições de poder repercutirão sobre as outras mulheres com a força de um exemplo a ser seguido, como a possibilidade de que “é possível chegar lá”.

Mesmo quando nos pensamos grandes ainda somos pequenas. O aumento da força de uma depende do aumento da força de todas, o que implica em identificar nossas diferenças, mas também considerar que os privilégios que detemos e fazemos questão de manter podem nos levar, no máximo, a um conforto individual e instável, mas que, se não forem transformados em direitos coletivos, não contribuirão efetivamente para a mudança significativa de um quadro de dominação secular que ajudamos a construir. Penso não somente nas mulheres que alcançaram posições de prestígio profissional, mas também naquela dona de casa da periferia que esquece da vizinha quando, a custo de muita economia, consegue comprar um carro popular usado e passa a se comportar “como se tivesse o rei na barriga”.

A influência cada vez mais crescente dos meios de comunicação na pressão pelo consumo desenfreado retira o foco de nós mesmas e passamos a, como robôs, perseguir a busca por aquisição de bens. Nesta tentativa desesperada de termos cada vez mais coisas, mesmo aquelas das quais não necessitamos, esquecemos das pequenas coisas que podem fazer a diferenças para outras. Falo não de bens materiais, mas de relacionamento, de considerar a outra, se importar com a sua vida, suas angústias e sofrimentos.

Na situação de competição frenética em que estamos colocadas não nos interessa o que a outra pensa, mas apenas que ela deve ser ou pensar para que possar ser considerada uma igual. É aí que mora o perigo, pois a luta das mulheres passa pela convergência de pessoas que necessitam, apesar das diferenças, se unir em prol de uma luta que mude a vida de todas, não importando se ela tenha a cor da pele ou cabelo que mais me agrade ou que diga exatamente aquilo que eu quero ouvir. Alguns grupos organizados, como partidos e associações, exercem um papel devastador para a consolidação da luta feminista, pois polarizam os grupos e dividem com base em critérios que, para nós mulheres, não nos tem contemplado nem se traduzem em resultados positivos na luta pela mudança da nossa condição. A socialista, a neoliberal ou a anarquista sofrem, em diferentes graus, dos efeitos da dominação ideológica de gênero, e não é pela via partidária que a luta feminista será fortalecida. Isto não significa que devamos virar as costas para a possível ampliação de espaço no poder formal.


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DISTORÇÃO NA LEI MARIA DA PENHA (Zelinda Barros)

“Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.” (Lei 11.340/2006 – Lei Maria da Penha)

O artigo acima traz uma cilada. Ele diz que a lésbica que comete violência contra outra lésbica, estando dentro dos requisitos acima elencados, também pratica violência contra a mulher. Isto não é verdade. E digo o porquê. Qualquer mulher que cometa um ato violento contra outra mulher pode ser caracterizada como violenta, mas ela não pode ser acusada de ter praticado “violência contra a mulher” porque este trata-se de um tipo específico de violência, que está referida à estrutura de gênero da sociedade em que vivemos, que privilegia os homens em detrimento das mulheres. Pode uma despossuída de poder numa estrutura de gênero desigual agredir uma outra despossuída? Você pode afirmar: “Sim, pode”. Também concordo. Entretanto, mesmo que esta mulher, em algum momento, obtenha alguma vantagem em relação à outra a quem agride, seja ela simbólica ou material, continuará sendo uma despossuída tendo em vista a nossa estrutura de gênero. São iguais em desgraça.
E vocês, amigas, o que acham?

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

DESCOMPASSO IDENTITÁRIO (Zelinda Barros)

No último dia 17, estávamos eu e minhas amigas Negramone e Rebeca Sobral reunidas para discutirmos o planejamento do projeto “Curso de Formação de B-girls” quando fomos surpreendidas por um telefonema de uma outra amiga, Karla, que dizia nervosa do outro lado da linha que nosso amigo Chico tinha sido preso na Lavagem do Bonfim. O clima leve, que até então tinha sido mantido intocado, foi quebrado. Chico, negro, rastafári, fora preso quando foi comprar uma cerveja e foi confundido com um dos homens que brigavam num bar. Ao tentar se defender das agressões dos policiais que desferiam golpes indistintamente em todos que ali estavam, foi injustamente preso, humilhado e agredido física e moralmente. Detalhe: os policiais também eram negros!

Essa face perversa do racismo sempre me intrigou... como nos violentamos com tanta agressividade e não temos força grupal suficiente para nos voltarmos contra o sistema racista que nos oprime. Aqueles policiais são pessimamente remunerados, têm que proteger o patrimônio dos mesmos que mantêm sua situação de sujeição e, em vez de se agruparem e buscarem forças para reverter esta situação a seu favor, simplesmente atingem aqueles que são tão ou mais vulneráveis que eles.

A ilusão de poder dada pela farda faz com que cometam as maiores atrocidades inclusive contra seus próprios irmãos, assassinando jovens negros a quem a vida não dá as mesmas oportunidades que os de outros segmentos em nossa sociedade... e eles também são os pais de jovens negros... também eles podem ter seus filhos assassinados injustamente ao serem confundidos com marginais apenas por serem negros... vocês podem afirmar: “Sim, mas identidade não é imposta, o sujeito precisa se reconhecer como tal”. Realmente, aqueles policiais não são negros, pois negros têm consciência do mal que nos atinge e preserva a vida do outro, seu irmão, e não o extermina.

Devemos nos voltar contra o roubo de milhões, bilhões, contra aqueles que nos roubam e a quem a Polícia e a Justiça defendem... não devemos nos voltar contra aqueles que são facilmente identificados como ladrões pela cor de pele... nós somos vítimas, e o que nos roubaram foi algo de um valor inestimável: a nossa propria identidade.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

CONFUSÃO DE TERMOS MANTENDO PRIVILÉGIOS (Zelinda Barros)

Uma revista semanal de circulação nacional publicou uma matéria em junho de 2007 ("O perigo de classificar os brasileiros por raça") em que se insiste no artifício de confundir os termos do debate sobre desigualdade no Brasil a fim de desqualificar as tentativas de correção de desigualdades baseadas na idéia de raça. É óbvio que raças biológicas não existem e que quem defende políticas reparatórias não pretendem, como afirmam os "ingênuos" repórteres, "...avaliar as pessoas não pelo conteúdo de seu caráter, mas pela cor da pele." É justamente contra este tipo de prática, que contribuiu para a super-representação da população negra entre os mais pobres e atribuiu cor à pobreza e à riqueza neste país, que a defesa de ações que criem oportunidades para os que até então foram (e são) tratados como cidadãos de segunda classe se faz necessária.
Tornou-se lugar comum, no processo de ataque contra as políticas de promoção da igualdade, mobilizar a genética e sua defesa da não existência de raças até mesmo quando os "anti-racistas" universalistas constroem seus argumentos utilizando-se de modo recorrente de termos que fazem referência ao debate racial que eles dizem ter deixado para trás: miscigenação, mulata, diferenças raciais...
O diferencial desta mobilização contemporânea da biologia para a promoção do "bem", ou a defesa da igualdade universal, contra o "mal", ou a sinalização e tentativa de correção de problemas sociais, é a inversão que a acompanha. Se no século XIX argumentos biológicos foram mobilizados para justificar a dominação européia exercida sobre povos não ocidentais, atualmente a suposta afirmação da igualdade dos seres humanos recorre justamente a argumentos biológicos para a manutenção de desigualdades, só que agora revestidos de propósitos humanitários.
Não podemos ignorar que o uso contemporâneo de raça para legitimar desigualdades persiste para além da genética, pois não é preciso acionar o mapa genético de ninguém para verificar a perpetuação de situações de discriminação. Não adianta identificar os 67,1% de ascendência européia de Neguinho da Beija-Flor ou os 96,8% de ascendência africana de Sandra de Sá. Não é de genética que se trata... basta analisarmos o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos segmentos populacionais branco e negro, consultarmos as estatísticas de jovens negros mortos pela Polícia ou verificarmos os dados sobre saúde da população negra para termos certeza de que não se trata disso.
O medo do reconhecimento do racismo como problema social que nos afeta é acompanhado do temor de leis que supostamente institucionalizariam o racismo no país (sic). Na educação, as iniciativas bem-sucedidas que fogem ao procedimento equívoco adotado pela UnB na identificação dos estudantes negros que devem ingressar na universidade e reverter a estatística perversa de apenas 2% de negros no ensino superior são deixadas para trás. Prefere-se recorrer ao argumento de que as cotas ferem o princípio do mérito acadêmico mesmo quando temos resultados de avaliações de universidades como a UFBA, que atestam que o desempenho dos estudantes que ingressaram via sistema de cotas é igual ou superior aos não-cotistas.
Na matéria, recorre-se ao argumento pífio de que após a abolição "...nunca houve barreiras institucionais aos negros no país", mesmo quando tivemos o total descaso do governo brasileiro de então em relação à população negra, que ficou à mercê de sua própria sorte enquanto conviviam com incentivos à imigração européia. A pobreza negra continua a ser atribuída, mesmo depois de 119 anos de "abolição da escravatura", a fatores históricos - como se sobre estes não interferissem fatores políticos e econômicos. Subjaz a este argumento a idéia de que se nós negros somos pobres é porque não tivemos a capacidade de superar as amarras da pobreza com a "criatividade" que outros segmentos tiveram para atualmente desfrutar de posição privilegiada em relação à nossa. Não está implícito aí o pressuposto racista de inferioridade dos negros?
O problema do racismo brasileiro é que ele contribuiu e contribui para a manutenção de privilégios a custa do silêncio e, muitas vezes, da conivência de quem é prejudicado por ele: nós negros. Na medida em que o racismo que não se revela é denunciado por ações que põem à nu o seu modus operandi e mostram de que forma os privilégios são mantidos, surgem ataques fundados em argumentos extremamente frágeis, como a afirmação do "orgulho da beleza de nossas mulatas". Se esta beleza fosse motivo de orgulho não teríamos uma televisão dominada por louras, onde as mulheres negras atuam quase sempre como assistentes e coadjuvantes. Dizer que "...o casamento entre brancos e negros no Brasil é um fato do cotidiano e não causa atenção" é fechar os olhos para o fato de que no país apenas 20% do total das uniões ocorrem entre pessoas de grupos de cor distintos. Apela-se para a nossa histórica "convivência amigável" ignorando-se que a tolerância ao diferente ocorre desde que este não ouse ultrapassar as fronteiras estabelecidas.
A única cegueira verificada no Brasil até então é em relação à situação dos negros e não à cor, pois ela é um poderoso combustível desta máquina que mantém privilégios em virtude do fenótipo dos indivíduos. Um país que ama aos seus cidadãos indistintamente não permite que membros de segmentos específicos gozem privilégios em detrimento de outros.

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PROJETO NEOJIBÁ ABRE PRÉ-INSCRIÇÕES

Basta ter idade entre 8 e 18 anos; interesse em algum instrumento de orquestra (à exceção do piano); disponibilidade para comparecer às atividades de segunda a sexta, no período da tarde, e não precisa saber tocar nem possuir o instrumento. Esses são os critérios para a pré-inscrição na segunda fase do Projeto NEOJIBÁ - Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia, lançado no ano passado sob a coordenação do gestor artístico da Orquestra Sinfônica da Bahia, Ricardo Castro. Os interessados devem preencher a ficha de pré-inscrição, disponível na Internet e também na portaria do Teatro Castro Alves. Mais informações pelo telefone (71) 3339-8085 ou no e-,mail neojiba@gmail.com. A partir daí, será criado um cadastro de nomes que poderão ser chamados na continuidade do projeto.

O PROJETO - Trata-se de uma ação prioritária do Governo do Estado da Bahia, promovida pela Secretaria de Cultura e realizada pela Fundação Cultural e Teatro Castro Alves, sob gestão da Orquestra Sinfônica da Bahia e em intercâmbio com a FESNOJIV - Sistema Nacional das Orquestras e Coros Juvenis e Infantis da Venezuela. O NEOJIBÁ é uma iniciativa inédita na Bahia e tem como objetivo promover a integração social através da prática orquestral, com a formação de núcleos de orquestras juvenis e infantis em Salvador e em cidades do Interior. O projeto é financiado pelo governo estadual com a captação de recursos através da Lei Rouanet. O primeiro fruto do NEOJIBÁ foi conferido pelo público baiano no segundo semestre do ano passado, com a estréia da Orquestra Sinfônica Juvenil Dois de Julho, no palco do TCA, seguida de outras apresentações pela cidade.

FONTE: http://www.tca.ba.gov.br/neojiba/preinscricaofase2.htm


UM SUCESSO!

Foi um sucesso a abertura do Curso de Formação de B-Girls, ocorrida ontem, 16 de janeiro. Quase cinquenta candidatas disputavam com afinco uma vaga no curso, ensaiando passos de dança. A B-girl Negramone, que conduzia o processo de seleção junto com Paula Azeviche e eu, dava as diretrizes para meninas e mulheres entusiasmadíssimas. O nível da seleção foi muito bom, com uma organização impecável, o que faz com que o curso prometa muitas coisas boas pela frente. Quem viver verá!

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

QUEM EU SOU (Zelinda Barros)

Não sou morena
Tampouco escurinha
Quem eu sou?
Negra

Subverto a ordem e a regra
Desarmo o sistema e revelo a sua cor
Quem eu sou?
Negra

Exalo minha ancestralidade através do ato
Pouco importa se a cor da minha pele é preta de fato
Quem eu sou?
Negra

Sou mulher por insistência
Conheço e desafio essa referência
Quem eu sou?
Negra

A voz que tentam sufocar
O meu corpo exala numa ginga, num pensar
Quem eu sou?
Negra

Rompendo as amarras mostro minha cara
E as garras mostro a quem me obriga
Quem eu sou?
Negra

Mesmo que tentem oprimir, diminuir, fazer desistir
Que continuem a abalar, desqualificar, desafiar
Por nada deixarei de ser e me afirmar
Negra

CURSO DE FORMAÇÃO DE B-GIRLS


O Núcleo de Mulheres da Rede Aiyê de Hip Hop abriu inscrições p

O Núcleo de Mulheres da Rede Aiyê de Hip Hop abriu inscrições para o Curso de Formação de B-Girls. O curso, apoiado pelo Fundo Ângela Borba de Recursos para Mulheres, é voltado a mulheres jovens a partir de 14 anos, moradoras de bairros periféricos de Salvador, e ocorrerá em 12(doze) encontros (aos sábados) nos meses de janeiro a abril do ano corrente. As interessadas poderão participar da seleção pública em que serão escolhidas 25 participantes, que receberão auxílio para transporte e alimentação no decorrer do curso. A seleção acontecerá no dia 16 de janeiro, no Teatro Gregório de Matos, a partir das 17 horas. Maiores informações nos telefones (71) 9995-7611 e 3497-3152 (falar com Negramone) e e-mail redeaiyehiphop@yahoo.com.br


O que é B.girl?

Mulher ou menina que dança os diferentes gêneros na dança de rua no Hip–Hop: Breaking, Locking, Popping entre outros. O termo foi criado pelo DJ Kool Herc para se referir àquelas que dançavam na roda ao som do DJ. A dança de rua, criação da juventude negra latina dos Estados Unidos na década de 60, é um dos elementos da cultura e movimento HipHop surgidos no contexto de político de guerra de Vietnã, movimentos por direitos civis, denúncia de desigualdades sociais e econômicas, afirmação de identidades e reconhecimento da história e lideranças negras.

domingo, 13 de janeiro de 2008

COTA PARA NEGROS NA UFBA: PERCURSO E PERCALÇOS (Zelinda Barros)

O Programa de Ações Afirmativas da Universidade Federal da Bahia (UFBA), surgido a partir da pressão exercida por organizações negras locais em busca de igualdade de condições no acesso e permanência de estudantes negros na universidade, completa três anos de implantação sem que questões fundamentais para a garantia de efetividade de suas ações tenham sido adequadamente consideradas. Muita confusão ainda existe a respeito do significado e importância de ações desta natureza e o uso político da ignorância a respeito do tema tem justificado distorções no planejamento e direcionamento das ações aos grupos que dela devem ser beneficiários.

As ações do Programa de Ações Afirmativas da UFBA, na medida em que se orientam à preparação dos candidatos ao Concurso Vestibular, à realização do Concurso, ao incentivo à permanência dos aprovados e ao acompanhamento e avaliação das políticas adotadas, cumprem parcialmente os objetivos a serem alcançados para a garantia de efetiva inserção da população afro-descendente na universidade. As ações de incentivo à permanência, fundamentais para a garantia da permanência do contingente de jovens negros que ingressaram via sistema de cotas na UFBA não têm a necessária continuidade assegurada. Os poucos projetos e programas existentes (b) têm curtíssima duração e envolvem pequeno número de estudantes, o que contribui para a reprodução da desigualdade interna ao segmento dos cotistas.

Tendo em vista que a educação formal brasileira somente com o advento da Lei de Diretrizes e Bases e da Lei 10.639/03 permitiu a inclusão de temas até então pouco discutidos no ambiente escolar, como pluralidade cultural e desigualdades raciais e de gênero, podemos observar que os professores carecem de formação específica para o trabalho com estes temas em sala de aula. Tal situação aponta tanto para a necessidade de mudança na estrutura dos currículos educacionais como para a necessidade de garantir aos profissionais que já atuam em sala de aula a formação específica para o trabalho com temas transversais.

Apesar de previsto em seu Programa de Ações Afirmativas, a UFBA ainda não incluiu nos currículos dos cursos de Licenciatura os conteúdos determinados pela lei, o que contribui para a formação de profissionais despreparados para o trabalho com a História e Cultura Afro-brasileiras. Diante de tal quadro e da importância das ações afirmativas para a criação de uma sociedade verdadeiramente igualitária, torna-se imprescindível o fortalecimento dos pontos frágeis do Programa de Ações Afirmativas idealizado pela UFBA. Somente seguindo à risca seus princípios e ações programadas, teremos na Universidade Federal da Bahia um modelo a ser replicado nacionalmente.

(a) Antropóloga, Mestra em Ciências Sociais, trabalha com consultoria a projetos sociais nas áreas de gênero e raça/etnia.

(b) Programa Preparatório para a Promoção da Igualdade Étnico-racial na Educação e Diálogos Cotistas, do CEAO, Programa Conexões de Saberes, da Pró-Reitoria de Assistência Estudantil, Programa AfroAtitude, do Programa A Cor da Bahia (FFCH).



DIAS DE ATIVISMO...




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