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E a danada da inveja, heim... xô! xô!
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Pela coletividade (Zelinda Barros)
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domingo, 30 de novembro de 2008
Para mudar, alter-estima
Atualmente, as pessoas estão tão auto-referenciadas que até mesmo um “Oi, tudo bem?” se tornou um ritual vazio, pois quem pergunta não quer saber a resposta e nem mesmo pára para ouvir se você está realmente bem ou mal. Eu vejo com muito bons olhos o avanço, em termos institucionais, provocado pela ação dos movimentos sociais, mas percebo que necessitamos agora de um redimensionamento. Institucionalmente, muito já foi e ainda precisa ser feito, mas não devemos perder de vista que instituições são feitas por pessoas, que estas pessoas têm sentimentos, aspirações e agem a partir de seus próprios lugares, suas vivências, perspectivas... é preciso tocar as pessoas, trazê-las para a ação coletiva não somente porque têm a mesma religião, cor, gênero ou ideologia que nós, mas porque a vida na terra depende de todos(as). E esta convergência é necessária não apenas entre aqueles(as) que tradicionalmente são vistos(as) e se vêem como oponentes mas, principalmente, entre os(as) chamados(as) “companheiros(as)”, que muitas vezes se calam vergonhosamente quando vêem o(a) outro(a) em perigo ou em situação vexatória. Me lembro de um colega de trabalho de meu pai, “amigo” de farras constantes que, num assalto ao local onde trabalhavam, fugiu e o deixou pra trás sem nem mesmo prestar socorro enquanto o amigo era vítima de um atentado.
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sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Representações do pensamento social acerca do casamento inter-racial (Zelinda Barros)
Alguns estudos demonstram como opera o conceito de raça em nossa sociedade e a persistência da interdição do casamento entre indivíduos considerados racialmente diferentes, o que nos leva a refletir sobre a importância e a influência da raça como categoria social e as representações existentes a respeito do casamento inter-racial. Neste artigo, são apresentadas e discutidas as representações sociológicas dominantes sobre o casamento inter-racial, muitas vezes reduzidas a uma visão monológica das relações raciais. Após criticar esta concepção, discuto as mudanças ocorridas no casamento e, por fim, proponho uma nova maneira de analisar os casamentos inter-raciais.
Palavras-chave: casamento, raça, representações, casais inter-raciais.
Onde encontrar? http://www.enfoques.ifcs.ufrj.br/marco08/03.htmquarta-feira, 12 de novembro de 2008
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
"O tom da cor", por Miriam Leitão
Lendo certos artigos, editoriais e escolhas de edição sobre a questão racial no Brasil, me sinto marciana. Sobre que país eles estão falando, afinal? Com que constroem argumentos e enfoques tão estranhos? Por que ofender com o espantosamente agressivo termo “racialista” quem quer ver os dados da distância entre negros e brancos no Brasil? Não é possível estudar as desigualdades sem pesquisar as diferenças entre os grupos. Não se estuda sem dados. No Brasil, há quem se ofenda com a criação de critérios para levantar os dados de cor como se isso fosse uma ameaçadora “classificação racial”.
Veja-se a cena que está nas abundantes e belas imagens da vitória americana. Há várias tonalidades de pele no grupo que se define como afro-americano. Aqui, sustenta-se que miscigenação é exclusividade nossa e que ela eliminou as diferenças. Os pardos (ou mulatos, como alguns preferem) e os pretos (como define o IBGE) estão muito próximos em inúmeros indicadores e estão muito distantes em relação aos brancos. Medir a distância que ambos têm em relação aos brancos não é uma forma perversa de negar a miscigenação. Medida à distância, é preciso conhecer suas razões. Só assim é possível construir as pontes que ligam as partes.
O presidente Barack Obama fez a campanha por sobre as diferenças raciais, por vários motivos. Primeiro, por estratégia eleitoral: falava para um país majoritariamente branco. Qualquer candidato que escolha apenas um grupo perde a eleição. Ganha-se a eleição construindo-se coalizões. Ele formou a dele com os 90% de votos dos negros, 60% de votos dos latinos e 45% de votos dos brancos. Como há muito mais brancos no país, em termos numéricos, recebeu em termos absolutos mais votos dos brancos. Vitória americana sobre sua própria História.
Outro motivo é que ele veio “após”. Ele não precisava do discurso de reivindicação de direitos, porque ele já foi feito na gloriosa caminhada que conquistou tanto. Um esforço que exige novos passos, mas que é extraordinariamente bem-sucedido.
Obama não precisava acentuar sua condição de negro. Ele é. Por isso, os jornais do mundo inteiro comemoraram “o primeiro presidente negro”. Ele também é filho de branco, mas por que isso não causa espanto? Ora, porque os brancos são a etnia dominante. A novidade está em sua origem negra. O jornalismo destaca o novo, e não o fato banal.
Certas análises no Brasil se perderam em encruzilhadas, tentando adaptar os fatos a suas interpretações do que sejam as diferenças entre os dois países. Lá e cá houve e há discriminação. Lá, não negaram e evoluíram. Aqui, nos perdemos em questiúnculas desviantes, quando o central é: há desigualdades raciais e elas são intoleráveis. Pessoas que pensam assim se esforçam para entender as razões e as raízes das desigualdades, se debruçam sobre os dados, não negam problema existente. A libertação vem da verdade conhecida.
Quem não sabe, a esta altura, que o conceito de “raça” é falso? É bizantino repetir isso. Discutir a desigualdade racial não é a forma de “racializar” o país, mas sim constatar um problema, criado sobre um artificialismo, e que exige superação. Racializado ele já é, com esta vergonhosa ausência dos negros (pretos e pardos), de todos os círculos, do poder no Brasil.
Comemorar a vitória em terra alheia, negando a existência da derrota em casa, é uma escolha que tem sido feita com insistência no Brasil. Na festa de Obama, isso se repetiu. Aqui se vai da negação do problema à condenação de todo tipo de instrumento usado para enfrentá-lo. Tudo é acusado de ser “racialista”: constatar as desigualdades, apontar suas origens na discriminação, tentar políticas públicas para reduzi-las. Argumentam que temos que melhorar a educação pública. Claro que temos, sempre tivemos. É urgente que se faça isso. Alguém discute isso?
A diferença entre a forma como o racismo se manifesta nos Estados Unidos e no Brasil não pode ser usada para perdoar o nosso. Aqui, vicejou a espantosa idéia da escravidão suave, como viceja hoje a idéia de que temos uma espécie de “racismo benigno” ou “apenas” uma discriminação social que atinge os negros pelo mero acaso de serem eles majoritários entre os pobres. São palavras que se negam. Este tipo de violência não comporta o termo “benigno”, como nenhuma escravidão pode ser suave, por suposto.
Segunda-feira vou ao Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais da UFRJ ver o lançamento do Mapa Anual das Desigualdades Raciais. Vou para olhar de novo os dados, conversar de novo com negros e brancos que estudam o assunto, aprender mais um pouco, procurar, esperançosa, algum avanço. Não acho que essa é uma conversa perturbadora da nossa paz social. Não acredito na paz que nega o problema. Acho lindo o sonho dos americanos, mas quero sonhar o meu.
(O Globo, 7/11/2008)
domingo, 10 de agosto de 2008
"'Um rato, olhando pelo buraco na parede, vê o fazendeiro e sua esposa abrindo um pacote .
Pensou logo no tipo de comida que poderia haver ali.
Ao descobrir que era uma ratoeira ficou aterrorizado. Correu ao pátio da fazenda advertindo a todos:
- Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa!.
'A galinha , disse: ' Desculpe-me Sr. Rato, eu entendo que isso seja um grande problema para o senhor, mas não me prejudica em nada, não me incomoda.'
O rato foi até o porco e lhe disse: 'Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira !'.
'Desculpe-me Sr. Rato, disse o porco, mas não há nada que eu possa fazer,a não ser rezar . Fique tranqüilo que o senhor será lembrado nas minhas preces .'
O rato dirigiu-se então à vaca. Ela lhe disse: '- O que Sr. Rato? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo? Acho que não !'
Então o rato voltou para a casa, cabisbaixo e abatido, para encarar a ratoeira do fazendeiro.
Naquela noite ouviu-se um barulho, como o de uma ratoeira pegando sua vítima .
A mulher do fazendeiro correu para ver o que havia pego.
No escuro, ela não viu que a ratoeira havia pego a cauda de uma cobra venenosa . E a cobra picou a mulher...
O fazendeiro a levou imediatamente ao hospital. Ela voltou com febre.
Todo mundo sabe que para alimentar alguém com febre, nada melhor que uma canja de galinha.
O fazendeiro pegou seu cutelo e foi providenciar o ingrediente principal .
Como a doença da mulher continuava, os amigos e vizinhos vieram visitá-la.
Para alimentá-los o fazendeiro matou o porco.
A mulher não melhorou e acabou morrendo.
Muita gente veio para o funeral.
O fazendeiro então sacrificou a vaca, para alimentar todo aquele povo.
Na próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e acreditar que o problema não lhe diz respeito, lembre-se que, quando há uma ratoeira na casa , toda a fazenda corre risco .
'O problema de um é problema de todos, quando convivemos em equipe.'"
segunda-feira, 14 de julho de 2008
A ilusão do poder (Zelinda Barros)
“Poder” o quê mesmo? Poder dissimular, poder trapacear, poder tecer intrigas, poder definir quem pode, poder, poder, poder... Estamos num turbilhão, mas... para onde vamos?
É preciso um repensar e um agir urgentes no sentido de retomarmos algo que na educação das gerações passadas era dado pela força do exemplo. Como seguir algo ou alguém em que/quem não se acredita? Como agir com solidariedade, se muitas alcançam o poder e beneficiam as que fazem parte do seu círculo, esquecendo tantas outras anônimas? Como ter esperança, se acordos são forjados com facções espúrias, antes antagônicas? Como confiar, se mal damos as costas e começam a nos difamar? Como falar em diversidade, se apenas as “iguais” fazem parte do círculo das eleitas?
É, mulheres, precisamos rever práticas, reforçar o que nos edifica e expurgar o que nos faz mal...
Apesar de tudo, confio na possibilidade de mudança e, assim como Martin Luther King em relação aos brancos, acho que “...precisamos acreditar que os mais desnorteados dentre eles podem aprender a respeitar a dignidade e o valor de cada personalidade humana.”(King, 18/09/1963)
A educação e a abertura à possibilidade de transformação são a base de tudo... quem comer desse pão viverá!
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quinta-feira, 17 de abril de 2008
Mais poesias... sentir e pensar... e agir!!! (Zelinda Barros)
Todos negam o teu direito
Julgam que a ti podem preterir
Mas tu,
dama negra e bela
Leva-nos a um lugar mágico
e misterioso
onde todo gênio rende-se
à tua mais verdadeira sabedoria.
__________ x __________
SOLITUDE
A mim não faltam palavras,
A mim não faltam pensamentos
O que faltam são pessoas
A mim faltam momentos.
Triste sina
a de quem pensou que podia
E passou a vida a achar-se só
Pois, quando de súbito acorda
Vê-se impedido de desatar este nó.
__________ x __________
Os olhos vêem,
A boca sorri
Nem tudo o que vêem é belo
E o sorriso ainda permanece
O alimento à visão é raro
A boca alimenta-a com um sorriso.
__________ x __________
FÃ
Nunca te vi
Sempre te admirei
Costumo te sentir
Nunca contigo estarei
Recolho-me ao som do silêncio
Que é a voz da solidão
Meu corpo com os olhos
a tua presença anseia
A mente abranda
o calor do coração
__________ x __________
Nada sei de novo
Tudo em mim já foi visitado
Unicamente visitado
Por mim mesma
Nas saídas sorrateiras da imaginação
Viajei em círculos
Não dei voz ao cansaço
Hoje,
vejo-me vazia de procura
Quero alguém
que resgate essa busca,
essa curiosidade por mim mesma.
__________ x __________
Gosto do nada,
que em si encerra mil possibilidades
Não simpatizo com o tudo,
que parece não admitir o vazio
A sensação de saciedade
me incomoda
Admiro a procura,
A busca constante
amo o instigante.
O nada sobrepõe-se ao tudo
mal feito
às esperanças inscientes
às necessidades vãs
aos desejos válidos
não saciados.
__________ x __________
Minha mente navega
como uma nau
desbravando novas terras
nesse mundo nodo
chamado imaginação
Não busco terra firme
Aprecio apenas a viagem
Que seja insólita enquanto dure!
__________ x __________
VIDA
Amiúde fútil
nas imagens que nos transmite
Cega
aos apelos da sorte
Nefasta
àquele a quem abraça a morte
Alegria
dos amorosos consortes
Tristeza
Do fraco, antes forte
Útil
como a cicatriz ao corte
__________ x __________
Me preocupa
A carência dos desvalidos
A insciência dos alienados
O arrivismo indecente
Me comove
A vida dos marginalizados
A ingenuidade dos carentes
A fraqueza da mente
Me revolta
A usura dos “ricos”
A desunião
O desamor
O desapego ao chão...
__________ x __________
POLIT...
Sórdidos otários
Arrivistas irracionais
Abutres mercenários
Homens de mente insana
de coração vazio
Políticos
nas palavras
Politiqueiros
nas ações
Raça de vermes!
Oxalá sejam expatriados
Sepultados
na sua pequenez moral
e materialismo burro.
__________ x __________
Sinto-me suja
Apesar da água
Sinto-me doente
Apesar da ciência
Sinto-me só
Apesar das pessoas
Sinto-me desprotegida
Apesar da polícia
Sinto-me em desarmonia
Apesar da natureza
Sinto-me... excluída
__________ x __________
Não se engane
Nunca poderei saciar-te
Matar tua fome,
tua sede
Sou como água salobra
Ao teu paladar
sou juá bravo
Sou ácido a corroer-te os sentimentos
Sou da cobra
o letal veneno
Leve à outra presença o teu pensamento
Não faça de tua vida um
Tor-men-to
__________ x __________
FILHA DA RUA
Menina descalça
Menina guerreira
A lua mãe
Pra ti sorri
à noite
Te aconchega
com sua luz materna extremosa
Promete dias melhores e sonhos
Pra colorir tua vida
curar tuas feridas
Não esqueça
em ti ela está presente
Toda noite não dorme
pra te agradar
As estrelas piscam brilhantes
pra teus sonhos iluminar
__________ x __________
PAISAGENS
Janela aberta
Visões passageiras
Por ti passam o moleque
A morena faceira
Capta momentos
Alimenta pensamentos
Tens a visão do homem na lida
És o esboço
Da magnânima vida!
PICHADOR DA CIDADANIA
Desce!
Seus gestos não são verdadeiros
Sua mente é vil e traiçoeira
Desce!
Iguala-se à sua altura moral,
à sua consciência perniciosa
Desce!
Devolve o lugar a quem trabalha,
a quem luta,
sua e, sobretudo,
raciocina
(Fica a promessa de figurar na história como é devido aos de sua espécie!)
__________ x __________
MARGINALIZADOS
Esbarram-se nas vielas
Convivem com a beleza pungente da vida
que só tem valor nas mãos do artista
Vivem (?!)
Conterrâneos da tristeza,
marginalizados
Desiguais?
Não. Humanos.
Portadores da condição que oprime,
insensibiliza,
flagela.
__________ x __________
BRILHO VÃO
Brilhar?
Como,
se a miséria ofusca os olhos dessa gente?
Quem há de me ver brilhar?
Como transpor as barreiras
E chegar à mente,
À alma
E transformar
A POBREZA MORAL
Em
SOLIDARIEDADE?
O quê?
Não diga que sou utopista
que sou ingênua
que sou rancorosa
por não querer ignorá-los e
RECOMEÇAR
Pergunto:
Feito o castelo de boas expectativas
Vê-lo destruído a ca-da-di-a
Como não sonhar,
Acreditar,
Decepcionar-se
RESSENTIR-SE?
__________ x __________
A fuga é útil
Amo a ele
Mas não ele a mim
Então sofro
Sofro só,
choro sozinha
E fujo.
Busco risos,
busco festa,
busco vinho,
Ele não encontro
Então, fujo.
Procuro disfarçar
Invento emoções que não sinto
Encubro a mim mesma
Continuo nessa procura
Busco o amor dele – ÚNICO
Espero que encontre o meu
Não consigo
Então... fujo.
__________ x __________
Construo castelos de sonhos
E me aprisiono neles
Num cárcere
Feito de imagens
Crio fantasias
Imagino um mundo que não me pertence
E ouso reinar sobre ele
Quando verdadeiramente me vejo
Encontro-me só
As pessoas que me cercam
quase não as vejo
Procuro outras
E quando não as encontro
fabrico
Me relaciono de forma íntima
Com seres etéreos
Travestidos de humanos
Enxergo olhares de ofuscante brilho
Mas... não sou eu quem os desperta
Penso e converso animadamente
com esses meus personagens
Amo, brinco,
brigo com eles
Talvez por medo de verdadeiramente amar,
brincar,
brigar
com pessoas.
__________ x __________
No primeiro contato
Foi como um camponês sem jeito
Sem saber como fazer para deixar à vontade um visitante citadino
Que me senti
Senti que o meu trivial,
o meu feijão de arroz acadêmico
poderia servir para, ao menos, estabelecer um contato
Porém,
percebendo que a minha intelectualidade de superfície não poderia proporcionar um contato que transcendesse o superficial
calei-me
Passei a observar e a maravilhar-me,
A aproveitar cada momento com você
Sua sutileza e seu olhar (Ah! O seu olhar...) me encantaram
Confesso que esses dias foram especialmente reveladores para mim
Encontrei-me com um ser que não sabia possível ser revelado a mim mesma (e, por mim mesma)
Graças a você...
Não sabia que tinha esse potencial
Não sei se vamos,
um dia
voltar a nos encontrar
Guardo essa lembrança-agradecimento
Lembrança
da possibilidade transformadora que foi o nosso encontro
Agradecimento,
por fazer de mim alguém mais apta
a captar os sinais de estar no mundo
com múltiplas pessoas,
dotadas de múltipla capacidade de amar.
__________ x __________
SOLIDÃO
Quando se está só
o mundo é mudo
mas toca bem no fundo
um samba de uma nota só.
Quando se está só
o tempo é longo
porém,
aguda e viva é a dor
de não poder ficar só
Se não estou só,
se a solidão não vem a mim por um segundo
não posso gozar da companhia
de quem me faz sol,
me faz mundo.
__________ x __________
AMIGOS
Amigos andam
Amigos abraçam
Amigos acompanham
Amigos aconselham
Amigos amam
Amigos querem bem
Amigos vigiam
Amigos brigam também
Quem não sabe ser amigo
Quem não sabe amar ninguém
Não enxerga a si mesmo
Nem o bem refletido em alguém.
__________ x __________
ESPERANÇA
Às vezes fala
Às vezes cala
Às vezes grita
Muitas vezes acalma
Às vezes choro
Muitas vezes riso
Às vezes corrida
Muitas vezes caminhada
Às vezes desilusão
Muitas vezes certeza
Às vezes desespero
Sempre, esperança.
__________ x __________
Quero a brisa
A brisa nordestina que traga fala mansa
Quero o sal
O sal
que o doce ressalta
Quero o sol
O sol
Reinando nas matas
Quero o dia
O dia
que abriga a noite
e a madrugada fria
Quero a vida
a vida que habita em mim
a vida que teu existir anuncia.
__________ x __________
O amor não morre,
Cochila
O amor não nega,
Abraça
O amor não prende
Liberta
O amor não tolhe
Incentiva
O amor não tem ciúme
Confia
O amor não passa
Permanece
O amor não une corpos
Une vidas
O amor não basta em si
Amplia-se
O amor não é indivisível
É compartilhado
Rasgos poéticos (Zelinda Barros)
Não me apego ao passado
Não necessito do presente
Agarro-me ao fugidio futuro
Com a força das mãos
E a incerteza da mente.
Não convivo bem com o pré-estabelecido
É preguiça que não tenho
Sou um ser pensante
Não assimilo preconceitos
Antes, os rejeito
Pois têm o valor do que é gasto, inútil
__________ x __________
Histórias ocorridas
Ilusões passadas
Pessoas em diligência
Povo lento em sua
Diária maratona
Porvir indefinidamente impalpável.
__________ x __________
Aos meus inimigos,
perdôo
Aos falsos amigos,
repudio
Aos que me evitam,
respeito
aos que com falsos sorrisos a mim cobrem
Ah! Pra esses,
Guardo doces beijos amargos...
__________ x __________
Navegue num rio de lágrimas
E chegue a uma ilha de sonhos
e de desejos satisfeitos
ou... a um abismo de angústia
e frustração.
__________ x __________
O mal por si só não se destrói
Usando bem a criatividade
E abusando da solidariedade
Podereis controlá-lo.
__________ x __________
Falo a verdade pois a amo
Não aquela inventada, refutável
E sim a que é de mim nascida
A que vem das minhas origens
A que faz de mim livre e orgulhosa
Ciente da importância do grito
E da força do silêncio
A que me faz... cidadã.
__________ x __________
A MORTE, QUE PENA...
Loucos! Querem tirar o bem
de quem dele fez mal
Querem dizer sim à ignóbil execução
Querem calar o grito, o crime,
a má ação
E sujar de sangue a consciência numa atitude mortal
Vão implantar a pena
Com um ato vão tirar de cena
Aquele que da vida sonhada
não sentiu o sabor
Aquele que não respeitou a morte
e à vida não deu valor...
__________ x __________
Novos tempos,
novos dias,
Novas técnicas,
novas tecnologias
Novo momento,
nova era
Velhos preconceitos,
velhas quimeras...
Época de viver
Época de amar
Época de saber falar e escutar
Época de discorrer,
De lutar.
__________ x __________
Insone
em noite de lua cheia
Lobo uivante,
Nuvens de algodão
Insano
pelos desejos selvagens
que a mente audaz impõe
ao coração.
__________ x __________
Novas tendências,
novos mitos
Jogos de poder
e conflitos
Seguem-se os velhos ritos
Continuam dominando
[os ricos]
Instauram-se novos limites
Novas ordens sociais
Promovem a fome e a guerra
Negam a disseminação da paz.
__________ x __________
quinta-feira, 6 de março de 2008
E o terreno tá cada vez mais árido (Zelinda Barros)
tá cada vez mais árido o terreno...
Grilaram o campo da luta
nos matam de fome, nos violentam
e sorriem...
Sorriem pelo direito assegurado
pela violência debelada
pela morte da sanha de poder
por agora termos como fazer
Mas o terreno tá árido
tá cada vez mais árido o terreno...
Trocaram a letra da lei
querem nos aniquilar com o nosso próprio veneno
põe intenções em meus gestos
de forma que nem mesmo eu sei
E o terreno? Árido
tá cada vez mais árido o terreno
Irmãs desconhecem irmãs
trocam o Nós pelo Eu
competem e correm
e param
competindo na busca do que é(?) seu
E tá árido
cada vez mais árido o terreno...
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segunda-feira, 3 de março de 2008
DICAS IMPORTANTES
Quer navegar por uns blogs interessantes? Experimente os blogs abaixo:
www.meublogcomtudodentro.blogspot.com – blog pessoal de Zelinda Barros, antropóloga
www.fazervaleralei.blogspot.com – blog com subsídios(livros, eventos, links) para auxiliar a implementação da Lei nº 10.639/03
www.trabalhartrabalhar.blogspot.com – blog voltado à divulgação de oportunidades de trabalho no Brasil, especialmente na Região Nordeste
www.casosecoisasdogenero.blogspot.com – blog com textos, poesias, divulgação de eventos relacionados à temática Gênero
www.trocatudosemdinheiro.blogspot.com – blog destinado à troca de objetos usados.
www.cursobgirls.blogspot.com – blog do Curso de Formação de B-Girl, promovido pela Rede Aiyê Hip Hop em parceria com o Fundo Ângela Borba de Recursos para Mulheres
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
DISTORÇÃO NA LEI MARIA DA PENHA - PARTE II
"Mulher é presa por agressão com base em lei Maria da Penha
A comerciária Renilda Santos Gonçalves, 19 anos, é a primeira mulher a ser presa em flagrante com base na lei Maria da Penha, criada, basicamente, para proteger o sexo feminino. Ela é acusada de ter jogado uma chaleira com água fervendo na sogra, a costureira Lucileide da Silva Moraes, de 52 anos, em Feira de Santana, e foi presa na manhã desta terça-feira, dia 12.
O sogro da comerciária, o petroleiro aposentado José Elizardo da Silva, de 75 anos, também sofreu com a agressão, quando tentou evitar a briga, e está internado na UTI do Hospital São Matheus.
“Renilda foi autuada pela agressão à sogra, mas o inquérito apresentará como agravante a situação do aposentado”, salientou a delegada titular da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), Martine Veloso.
Lucileide passa bem, apesar de ter sofrido queimaduras em boa parte da barriga. Renilda está presa no xadrez do Complexo Policial Investigador Bandeira. As duas se acusam mutuamente de ciúmes de Rogério Moraes Amorim, de 22 anos, filho da vítima e noivo da comerciaria.
A Tarde, CIDADES, 12/02/08."
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
A INCOERÊNCIA É O REGIME (Zelinda Barros)
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
MOVIMENTO DE MULHERES: COM OU SEM MULHERES? (Zelinda Barros)
A institucionalização dos movimentos sociais - dentre eles o de mulheres, que hoje têm boa parte de seus quadros integrando as estruturas de governo, põe a nu questões não resolvidas pelos movimentos e que precisam ser entendidas não apenas como referidas a um movimento estratégico de cooptação pelo Estado ou à traição das(os) companheiras(os) seduzidas(os) pelo poder. A penetração de espaços até então não ocupados por mulheres, por exemplo, traz à tona o problema do relacionamento com o poder, do modo como lidamos com a possibilidade concreta de reversão de uma situação que pode contribuir para a modificação das nossas vidas.
As explicações de alcance macro podem ser tentadoras no sentido de dimensionarmos o problema como algo que não atinge exclusivamente a um determinado segmento de mulheres, mas a todas nós. No entanto, elas fazem com que percamos de vista minúcias que, para nós mulheres, que ao longo de nossa trajetória histórica nos ocupamos das “pequenas coisas”, são importantes para definição de um novo rumo na luta política. O sistema de dominação que impõe a nós mulheres a situação de desvantagem em relação aos homens, até mesmo por nossa própria iniciativa em favor deles, se alimenta de uma lógica que muitas vezes reproduzimos na tentativa de esboçar uma reação. Revela-se o mesmo desprezo pelo que é considerado de menor importância, de menor impacto: a relação face a face. É justamente a proximidade das relações que as mulheres historicamente forjaram que pode servir como potencial transformador da vida de todas as mulheres, não apenas das que são consideradas empoderadas ou que tentam a via do empoderamento das mulheres através do ilusório empoderamento de algumas poucas representantes. Não podemos cair na armadilha de pensar que a ocupação de determinado cargo de prestígio ou que o gozo das benesses desfrutadas por ocuparmos certas posições de poder repercutirão sobre as outras mulheres com a força de um exemplo a ser seguido, como a possibilidade de que “é possível chegar lá”.
Mesmo quando nos pensamos grandes ainda somos pequenas. O aumento da força de uma depende do aumento da força de todas, o que implica em identificar nossas diferenças, mas também considerar que os privilégios que detemos e fazemos questão de manter podem nos levar, no máximo, a um conforto individual e instável, mas que, se não forem transformados em direitos coletivos, não contribuirão efetivamente para a mudança significativa de um quadro de dominação secular que ajudamos a construir. Penso não somente nas mulheres que alcançaram posições de prestígio profissional, mas também naquela dona de casa da periferia que esquece da vizinha quando, a custo de muita economia, consegue comprar um carro popular usado e passa a se comportar “como se tivesse o rei na barriga”.
A influência cada vez mais crescente dos meios de comunicação na pressão pelo consumo desenfreado retira o foco de nós mesmas e passamos a, como robôs, perseguir a busca por aquisição de bens. Nesta tentativa desesperada de termos cada vez mais coisas, mesmo aquelas das quais não necessitamos, esquecemos das pequenas coisas que podem fazer a diferenças para outras. Falo não de bens materiais, mas de relacionamento, de considerar a outra, se importar com a sua vida, suas angústias e sofrimentos.
Na situação de competição frenética em que estamos colocadas não nos interessa o que a outra pensa, mas apenas que ela deve ser ou pensar para que possar ser considerada uma igual. É aí que mora o perigo, pois a luta das mulheres passa pela convergência de pessoas que necessitam, apesar das diferenças, se unir em prol de uma luta que mude a vida de todas, não importando se ela tenha a cor da pele ou cabelo que mais me agrade ou que diga exatamente aquilo que eu quero ouvir. Alguns grupos organizados, como partidos e associações, exercem um papel devastador para a consolidação da luta feminista, pois polarizam os grupos e dividem com base em critérios que, para nós mulheres, não nos tem contemplado nem se traduzem em resultados positivos na luta pela mudança da nossa condição. A socialista, a neoliberal ou a anarquista sofrem, em diferentes graus, dos efeitos da dominação ideológica de gênero, e não é pela via partidária que a luta feminista será fortalecida. Isto não significa que devamos virar as costas para a possível ampliação de espaço no poder formal.
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DISTORÇÃO NA LEI MARIA DA PENHA (Zelinda Barros)
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.” (Lei 11.340/2006 – Lei Maria da Penha)
O artigo acima traz uma cilada. Ele diz que a lésbica que comete violência contra outra lésbica, estando dentro dos requisitos acima elencados, também pratica violência contra a mulher. Isto não é verdade. E digo o porquê. Qualquer mulher que cometa um ato violento contra outra mulher pode ser caracterizada como violenta, mas ela não pode ser acusada de ter praticado “violência contra a mulher” porque este trata-se de um tipo específico de violência, que está referida à estrutura de gênero da sociedade em que vivemos, que privilegia os homens em detrimento das mulheres. Pode uma despossuída de poder numa estrutura de gênero desigual agredir uma outra despossuída? Você pode afirmar: “Sim, pode”. Também concordo. Entretanto, mesmo que esta mulher, em algum momento, obtenha alguma vantagem em relação à outra a quem agride, seja ela simbólica ou material, continuará sendo uma despossuída tendo em vista a nossa estrutura de gênero. São iguais em desgraça.
E vocês, amigas, o que acham?
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
DESCOMPASSO IDENTITÁRIO (Zelinda Barros)
No último dia 17, estávamos eu e minhas amigas Negramone e Rebeca Sobral reunidas para discutirmos o planejamento do projeto “Curso de Formação de B-girls” quando fomos surpreendidas por um telefonema de uma outra amiga, Karla, que dizia nervosa do outro lado da linha que nosso amigo Chico tinha sido preso na Lavagem do Bonfim. O clima leve, que até então tinha sido mantido intocado, foi quebrado. Chico, negro, rastafári, fora preso quando foi comprar uma cerveja e foi confundido com um dos homens que brigavam num bar. Ao tentar se defender das agressões dos policiais que desferiam golpes indistintamente em todos que ali estavam, foi injustamente preso, humilhado e agredido física e moralmente. Detalhe: os policiais também eram negros!
Essa face perversa do racismo sempre me intrigou... como nos violentamos com tanta agressividade e não temos força grupal suficiente para nos voltarmos contra o sistema racista que nos oprime. Aqueles policiais são pessimamente remunerados, têm que proteger o patrimônio dos mesmos que mantêm sua situação de sujeição e, em vez de se agruparem e buscarem forças para reverter esta situação a seu favor, simplesmente atingem aqueles que são tão ou mais vulneráveis que eles.
A ilusão de poder dada pela farda faz com que cometam as maiores atrocidades inclusive contra seus próprios irmãos, assassinando jovens negros a quem a vida não dá as mesmas oportunidades que os de outros segmentos em nossa sociedade... e eles também são os pais de jovens negros... também eles podem ter seus filhos assassinados injustamente ao serem confundidos com marginais apenas por serem negros... vocês podem afirmar: “Sim, mas identidade não é imposta, o sujeito precisa se reconhecer como tal”. Realmente, aqueles policiais não são negros, pois negros têm consciência do mal que nos atinge e preserva a vida do outro, seu irmão, e não o extermina.
Devemos nos voltar contra o roubo de milhões, bilhões, contra aqueles que nos roubam e a quem a Polícia e a Justiça defendem... não devemos nos voltar contra aqueles que são facilmente identificados como ladrões pela cor de pele... nós somos vítimas, e o que nos roubaram foi algo de um valor inestimável: a nossa propria identidade.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
CONFUSÃO DE TERMOS MANTENDO PRIVILÉGIOS (Zelinda Barros)
Tornou-se lugar comum, no processo de ataque contra as políticas de promoção da igualdade, mobilizar a genética e sua defesa da não existência de raças até mesmo quando os "anti-racistas" universalistas constroem seus argumentos utilizando-se de modo recorrente de termos que fazem referência ao debate racial que eles dizem ter deixado para trás: miscigenação, mulata, diferenças raciais...
O diferencial desta mobilização contemporânea da biologia para a promoção do "bem", ou a defesa da igualdade universal, contra o "mal", ou a sinalização e tentativa de correção de problemas sociais, é a inversão que a acompanha. Se no século XIX argumentos biológicos foram mobilizados para justificar a dominação européia exercida sobre povos não ocidentais, atualmente a suposta afirmação da igualdade dos seres humanos recorre justamente a argumentos biológicos para a manutenção de desigualdades, só que agora revestidos de propósitos humanitários.
Não podemos ignorar que o uso contemporâneo de raça para legitimar desigualdades persiste para além da genética, pois não é preciso acionar o mapa genético de ninguém para verificar a perpetuação de situações de discriminação. Não adianta identificar os 67,1% de ascendência européia de Neguinho da Beija-Flor ou os 96,8% de ascendência africana de Sandra de Sá. Não é de genética que se trata... basta analisarmos o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos segmentos populacionais branco e negro, consultarmos as estatísticas de jovens negros mortos pela Polícia ou verificarmos os dados sobre saúde da população negra para termos certeza de que não se trata disso.
O medo do reconhecimento do racismo como problema social que nos afeta é acompanhado do temor de leis que supostamente institucionalizariam o racismo no país (sic). Na educação, as iniciativas bem-sucedidas que fogem ao procedimento equívoco adotado pela UnB na identificação dos estudantes negros que devem ingressar na universidade e reverter a estatística perversa de apenas 2% de negros no ensino superior são deixadas para trás. Prefere-se recorrer ao argumento de que as cotas ferem o princípio do mérito acadêmico mesmo quando temos resultados de avaliações de universidades como a UFBA, que atestam que o desempenho dos estudantes que ingressaram via sistema de cotas é igual ou superior aos não-cotistas.
Na matéria, recorre-se ao argumento pífio de que após a abolição "...nunca houve barreiras institucionais aos negros no país", mesmo quando tivemos o total descaso do governo brasileiro de então em relação à população negra, que ficou à mercê de sua própria sorte enquanto conviviam com incentivos à imigração européia. A pobreza negra continua a ser atribuída, mesmo depois de 119 anos de "abolição da escravatura", a fatores históricos - como se sobre estes não interferissem fatores políticos e econômicos. Subjaz a este argumento a idéia de que se nós negros somos pobres é porque não tivemos a capacidade de superar as amarras da pobreza com a "criatividade" que outros segmentos tiveram para atualmente desfrutar de posição privilegiada em relação à nossa. Não está implícito aí o pressuposto racista de inferioridade dos negros?
O problema do racismo brasileiro é que ele contribuiu e contribui para a manutenção de privilégios a custa do silêncio e, muitas vezes, da conivência de quem é prejudicado por ele: nós negros. Na medida em que o racismo que não se revela é denunciado por ações que põem à nu o seu modus operandi e mostram de que forma os privilégios são mantidos, surgem ataques fundados em argumentos extremamente frágeis, como a afirmação do "orgulho da beleza de nossas mulatas". Se esta beleza fosse motivo de orgulho não teríamos uma televisão dominada por louras, onde as mulheres negras atuam quase sempre como assistentes e coadjuvantes. Dizer que "...o casamento entre brancos e negros no Brasil é um fato do cotidiano e não causa atenção" é fechar os olhos para o fato de que no país apenas 20% do total das uniões ocorrem entre pessoas de grupos de cor distintos. Apela-se para a nossa histórica "convivência amigável" ignorando-se que a tolerância ao diferente ocorre desde que este não ouse ultrapassar as fronteiras estabelecidas.
A única cegueira verificada no Brasil até então é em relação à situação dos negros e não à cor, pois ela é um poderoso combustível desta máquina que mantém privilégios em virtude do fenótipo dos indivíduos. Um país que ama aos seus cidadãos indistintamente não permite que membros de segmentos específicos gozem privilégios em detrimento de outros.
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PROJETO NEOJIBÁ ABRE PRÉ-INSCRIÇÕES
Basta ter idade entre 8 e 18 anos; interesse em algum instrumento de orquestra (à exceção do piano); disponibilidade para comparecer às atividades de segunda a sexta, no período da tarde, e não precisa saber tocar nem possuir o instrumento. Esses são os critérios para a pré-inscrição na segunda fase do Projeto NEOJIBÁ - Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia, lançado no ano passado sob a coordenação do gestor artístico da Orquestra Sinfônica da Bahia, Ricardo Castro. Os interessados devem preencher a ficha de pré-inscrição, disponível na Internet e também na portaria do Teatro Castro Alves. Mais informações pelo telefone (71) 3339-8085 ou no e-,mail neojiba@gmail.com. A partir daí, será criado um cadastro de nomes que poderão ser chamados na continuidade do projeto.
O PROJETO - Trata-se de uma ação prioritária do Governo do Estado da Bahia, promovida pela Secretaria de Cultura e realizada pela Fundação Cultural e Teatro Castro Alves, sob gestão da Orquestra Sinfônica da Bahia e em intercâmbio com a FESNOJIV - Sistema Nacional das Orquestras e Coros Juvenis e Infantis da Venezuela. O NEOJIBÁ é uma iniciativa inédita na Bahia e tem como objetivo promover a integração social através da prática orquestral, com a formação de núcleos de orquestras juvenis e infantis em Salvador e em cidades do Interior. O projeto é financiado pelo governo estadual com a captação de recursos através da Lei Rouanet. O primeiro fruto do NEOJIBÁ foi conferido pelo público baiano no segundo semestre do ano passado, com a estréia da Orquestra Sinfônica Juvenil Dois de Julho, no palco do TCA, seguida de outras apresentações pela cidade.
FONTE: http://www.tca.ba.gov.br/neojiba/preinscricaofase2.htmUM SUCESSO!
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
QUEM EU SOU (Zelinda Barros)
Tampouco escurinha
Quem eu sou?
Negra
Subverto a ordem e a regra
Desarmo o sistema e revelo a sua cor
Quem eu sou?
Negra
Exalo minha ancestralidade através do ato
Pouco importa se a cor da minha pele é preta de fato
Quem eu sou?
Negra
Sou mulher por insistência
Conheço e desafio essa referência
Quem eu sou?
Negra
A voz que tentam sufocar
O meu corpo exala numa ginga, num pensar
Quem eu sou?
Negra
Rompendo as amarras mostro minha cara
E as garras mostro a quem me obriga
Quem eu sou?
Negra
Mesmo que tentem oprimir, diminuir, fazer desistir
Que continuem a abalar, desqualificar, desafiar
Por nada deixarei de ser e me afirmar
Negra
CURSO DE FORMAÇÃO DE B-GIRLS
O Núcleo de Mulheres da Rede Aiyê de Hip Hop abriu inscrições para o Curso de Formação de B-Girls. O curso, apoiado pelo Fundo Ângela Borba de Recursos para Mulheres, é voltado a mulheres jovens a partir de 14 anos, moradoras de bairros periféricos de Salvador, e ocorrerá em 12(doze) encontros (aos sábados) nos meses de janeiro a abril do ano corrente. As interessadas poderão participar da seleção pública em que serão escolhidas 25 participantes, que receberão auxílio para transporte e alimentação no decorrer do curso. A seleção acontecerá no dia 16 de janeiro, no Teatro Gregório de Matos, a partir das 17 horas. Maiores informações nos telefones (71) 9995-7611 e 3497-3152 (falar com Negramone) e e-mail redeaiyehiphop@yahoo.com.br
O que é B.girl?
Mulher ou menina que dança os diferentes gêneros na dança de rua no Hip–Hop: Breaking, Locking, Popping entre outros. O termo foi criado pelo DJ Kool Herc para se referir àquelas que dançavam na roda ao som do DJ. A dança de rua, criação da juventude negra latina dos Estados Unidos na década de 60, é um dos elementos da cultura e movimento HipHop surgidos no contexto de político de guerra de Vietnã, movimentos por direitos civis, denúncia de desigualdades sociais e econômicas, afirmação de identidades e reconhecimento da história e lideranças negras.
domingo, 13 de janeiro de 2008
COTA PARA NEGROS NA UFBA: PERCURSO E PERCALÇOS (Zelinda Barros)
As ações do Programa de Ações Afirmativas da UFBA, na medida em que se orientam à preparação dos candidatos ao Concurso Vestibular, à realização do Concurso, ao incentivo à permanência dos aprovados e ao acompanhamento e avaliação das políticas adotadas, cumprem parcialmente os objetivos a serem alcançados para a garantia de efetiva inserção da população afro-descendente na universidade. As ações de incentivo à permanência, fundamentais para a garantia da permanência do contingente de jovens negros que ingressaram via sistema de cotas na UFBA não têm a necessária continuidade assegurada. Os poucos projetos e programas existentes (b) têm curtíssima duração e envolvem pequeno número de estudantes, o que contribui para a reprodução da desigualdade interna ao segmento dos cotistas.
Tendo em vista que a educação formal brasileira somente com o advento da Lei de Diretrizes e Bases e da Lei 10.639/03 permitiu a inclusão de temas até então pouco discutidos no ambiente escolar, como pluralidade cultural e desigualdades raciais e de gênero, podemos observar que os professores carecem de formação específica para o trabalho com estes temas em sala de aula. Tal situação aponta tanto para a necessidade de mudança na estrutura dos currículos educacionais como para a necessidade de garantir aos profissionais que já atuam em sala de aula a formação específica para o trabalho com temas transversais.
Apesar de previsto em seu Programa de Ações Afirmativas, a UFBA ainda não incluiu nos currículos dos cursos de Licenciatura os conteúdos determinados pela lei, o que contribui para a formação de profissionais despreparados para o trabalho com a História e Cultura Afro-brasileiras. Diante de tal quadro e da importância das ações afirmativas para a criação de uma sociedade verdadeiramente igualitária, torna-se imprescindível o fortalecimento dos pontos frágeis do Programa de Ações Afirmativas idealizado pela UFBA. Somente seguindo à risca seus princípios e ações programadas, teremos na Universidade Federal da Bahia um modelo a ser replicado nacionalmente.
(a) Antropóloga, Mestra em Ciências Sociais, trabalha com consultoria a projetos sociais nas áreas de gênero e raça/etnia.
(b) Programa Preparatório para a Promoção da Igualdade Étnico-racial na Educação e Diálogos Cotistas, do CEAO, Programa Conexões de Saberes, da Pró-Reitoria de Assistência Estudantil, Programa AfroAtitude, do Programa A Cor da Bahia (FFCH).